sexta-feira, 29 de junho de 2007

Dúvida cruel III

Na época em que nem todo mundo tinha telefone em casa, qual era o comportamento padrão das visitas?
Eu acho que as pessoas apareciam na casa dos outros de surpresa, sem mais nem menos. Devia ser bem chato. Você estava lá, no sacro-santo recesso do lar, quase embarcando num sono dominical, aí chegava um bando de parentes, sem a menor cerimônia.
Aquela música, que fala do Arnesto que convidou prum samba e os convidados deram com o nariz na porta, me reforça essa idéia. O Arnesto deve ter esquecido do combinado ou, então, quis mesmo é fugir dos camaradas. Vai saber. Às vezes, ele teve uma emergência e teve de sair às pressas. E eu aqui julgando o cara.

O telefone fixo, o celular e o interfone facilitam muito a vida nesse ponto.
Inclusive para quem quer fugir de visitas fora de hora.

Mas acho que há uma perda nisso. Devia ser gostoso ficar esperando, será que eles vêm ou não vêm?

domingo, 24 de junho de 2007

Jornalismo gonzo

Foi um programa inusitado para uma tarde de domingo. Hoje, durante o plantão de domingo no jornal, entrei em uma galeria pluvial. Isto é, entrei no buraco que existe embaixo daquelas tampas redondas de metal, no meio da rua.
Tinha uma aguinha esbranquiçada correndo lá embaixo, mas não era para ter nada já que, teoricamente, a galeria é para drenar água de chuva. O lugar é bem grande - chama-se ponto de visita - e fica-se em pé lá dentro.
O que me chamou a atenção é que eu imaginava que havia baratas ou outros bichos por lá, e não vi nadinha. Só um cheirinho ruim, mas completamente tolerável. E vários túneis, as galerias propriamente ditas, que vem de um lugar e vão para outro, geralmente um córrego.
Entre a subida e decida, consegui sujar as mãos, a camiseta e a calça em três lugares diferentes.
Faz parte.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Dúvida cruel II

Quem primeiro teve a idéia de criar cadeias será que pensou em:

1) Cercear a liberdade alheia como forma de punição?

ou

2) Tirar o mau elemento de circulação para garantir a sobrevivência da espécie?

segunda-feira, 11 de junho de 2007

A vida é treino

Minhas elocubrações infantis eram, em sua maioria, muito ricas.

Um dia eu perguntei para minha mãe como era depois da morte.

A resposta católica foi a da vida eterna, que se tivéssemos merecimento, iríamos para um lugar bem bom viver a eternidade. Mas só em espírito, claro.

A resposta fez todo o sentido, porque uma coisa, já naquela época, me era inconcebível: que a vida simplesmente acabasse.

Lembro-me de, aos três ou quatro anos, estar agachada no quintal de cerâmica da casa de SP, a mãe logo ao lado na área de serviço, ao alcance da voz. E pensar: "mas esse 'eu' que está pensando agora, agorinha, não é possível que ele pare de pensar um dia". Não conseguia conceber a não-existência. Depois da confirmação católico-maternal, me tranqüilizei: 'eu' continuaria a existir e a pensar, onde quer que fosse.

Essa certeza me acompanha desde então (ou desde sempre, não sei) e me faz acreditar com mais força na idéia de que a vida é treino. Um dia, se a gente treinar bem treinado e tiver merecimento, o 'eu' vai para um lugar tão inimaginavelmente danado de bom que não volta mais.

É, a vida é treino.