terça-feira, 30 de dezembro de 2008

December blues

Talvez, no dia eu que eu chegue a algum estágio mais avançado da evolução do que aquele em que me encontro, eu pare de ficar melancólica a cada final de ano. Já foi pior mas, ainda hoje, não consigo dar pulos de alegria nessa época do ano. Quando eu era criança, sentia angústia dessas que queima gelado nas têmporas só de imaginar que o tempo não pára e que um dia meus pais iam morrer e que, a cada ano passado, era tempo a menos.
Essa angústia atemorizante sumiu junto com uma série de outros medos infantis. Mas a melancoliazinha permanece. Quando chega dezembro e vejo os enfeites de Natal, já bate uma nostalgia misturada com um sentimento de gratidão por poder viver. É difícil explicar.


Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.
(Drummond, dezembro de 1985)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

É a vida

Hoje faz dois anos que, durante a madrugada, meu tio ligou de São Paulo para avisar que minha avó Irene tinha falecido. Morreu quietinha e magrinha feito um passarinho doente, sem jamais ter reclamado. Sinto saudades dela, mas sua ausência não me deixa mais triste.
Hoje de manhã soube que, ontem à noite, o pai de um amigo querido morreu inesperadamente.
A minha bisavó Clara Maria, que tinha uma frase para cada situação, dizia: "a morte sempre deixa uma desculpa". E, quando a morte não era dos seus, saía com essa: "a morte é triste para quem vai porque, quem cá fica, cá se arranja".
É a única certeza dessa vida, mas é sempre difícil.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Seo Natal

A amiga Dani, que mora lá no Hemisfério Norte, teve um tal de Natal Nascimento entre seus recenseados no censo de 2000. Estávamos no primeiro ano de jornalismo na UEL, e contar pessoas em Londrina era uma opção bem viável para descolar algum. O seo Natal entrou para nossa estatística informal de nomes pitorescos dada a redundância.
Muitos anos antes, na infância de Araraquara, achei numa caixa de recuerdos um telegrama que meu avó pernambucano, que morava na Bahia e hoje habita o mundo espiritual, me mandou no meu aniversário de um aninho. Em linguagem econômica, o vô me felicitava pelo meu primeiro natalício na infância de São Paulo. Aí descobri que a palavra natal tem a ver com nascimento e fez todo sentido o Dia de Natal celebrar o nascimento do Menino Jesus.
Hoje, percebo que se comemora muito mais o encontro com parentes queridos do que o nascimento de Jesus neste dia. [para não falar que o espaço do Menino é bem menor do que o do velho barbudo] De certo modo, encontrar os nossos e estar em contato com as origens é uma forma de renascer um pouquinho. Somos todos filhos do mesmo Pai.

***
Tudo é mais fácil quando procuramos ver o lado cômico das situações. Num final de tarde, há mais de 20 anos, eu levei um tombaço na vila em que morava em São Paulo. Com a jardineirinha azul do uniforme do Colégio Santana e botas ortopédicas, fiquei estatelada no asfalto e abri o berreiro. Nada mais natural.
Inesperadamente, uns molecões da rua, que geralmente atazanavam a minha paciência e das outras meninas, largaram o jogo de bola vieram me socorrer. Cada um segurou num braço e perna meu e, imitando o “ióóóóó-ióóóó” de ambulância, me carregaram até minha casa.
De drama infantil o tombo virou comédia, e quase perdi o ar na transição entre o choro e a gargalhada incontrolável. Ganhei um ralado no queixo e uma recordação boa.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Pró labore


Uma das coisas que gosto na vida de repórter é poder entrar, autorizadamente, na casa das pessoas e fazer muitas perguntas. Agora no fim do ano, quando estamos preparando um gavetório¹ para as edições pós Natal e pós Reveillon, tenho a oportunidade de fazer algumas matérias frias que me permitem encontrar alguns personagens raros. Ontem fui à casa de uma senhora de 94 anos e bati um bom papo com ela. O porquê de a vovozinha ser notícia deixo para as edições vindouras do jornal.
O layout da senhorinha é o mesmo da dona Dita, a avó do Chico Bento. Com a diferença que a minha personagem é uma negra retinta do cabelo de algodão. Abstive-me no jornal, mas aqui eu posso dizer: ela tem uma barbicha igualmente algodoada. Não pensem que sou cruel, o adorno foi destacado por uma das filhas da senhorinha, que colocou o “fazer a barba” junto com “fazer as unhas” nos hábitos de beleza recém adquiridos pela vovó. Na verdade, ela começou a ir à manicure há oito anos, mas para quem já viveu 94, é um tempo recente. Na verdade, na verdade mesmo, ela não vai a manicure – é a moça que vai a casa da vovó, onde existem seis pares de mãos ávidos por cuidado. Na verdade e em última instância, ela começou a pintar as unhas só depois de concluir que, afinal, não era coisa de biscate, como ela pensou por décadas.
Sem dentes, a senhorinha ri de dar gosto. Ri e fica séria quando conta que o marido, na noite de 1969 em que morreu, foi à zona de meretrício. Mas voltou pra casa e morreu com a cabeça encostada no ombro direito da velha. [por favor, imaginem a versão negra da dona Dita batendo a mão no ombro direito] Só podia morrer mesmo do coração um homem desses.
Ri e faz cara de respeito quando conta que o pai enviuvou cinco vezes e que, aos 90, enterrou a mãe dela que contava com apenas 36 anos. Ri quando conta que toda tarde senta no banco da calçada com a vizinha para ver se ela está viva. Fica séria mesmo quando lembra que aprendeu o puçá com a avó que morreu aos 125. A cara fechada é pela rigorosidade da centenária ou por medo de viver tanto?
Por uma horinha, tive a honra de estar diante de um personagem do realismo fantástico de García Márquez. Mas recusei o café para não ficar presa na casa para sempre.


¹ conjunto de matérias de gaveta, neologismo by myself

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Como areia entre os dedos

Tenho idéias de posts que vem em momentos impróprios para a escrita. Na hora de dormir ou durante o banho, por exemplo. Mas esses ocorridos são mais raros do que outros pequenos acontecidos que, de tão diminutos, não ouso chamar de momentos. É quando, durante o trabalho, conversa no bar ou um filme no cinema surge um fragmento, uma idéia. Mais com cara de aparte, comentário, do que de texto encorpado.
É mais uma idéia sobre como dizer as coisas do que o que dizer.
Uma sugestão de forma. E visualizo como ficaria na página, os três asteriscos que separariam o texto principal de um adendozinho de três linhas.
A sugestão pode ser estimulada pelo olhar, uma sensação, uma frase ou comentário desses que não é com a gente, mas que a gente escuta e toma nota mental.
Quando isso acontece, sou feliz. Prometo a mim mesma que vou escrever e postar. E que será o início de uma profícua série no meu blog.
Mas, na grandissíssima maioria das ocorrências, essas pequenas epifanias fenecem. Letras mortas. Natimortas e inférteis.
Tudo isso, querido leitor, para dizer que lamento e sinto muitíssimo que este blog seja tão desatualizado. É realmente um desaforo.
E, para me justificar: já fui muito melhor com a escrita não jornalística. Houve um tempo em que trocava cartas com amigos de internet, depois passei a trocar cartas com os amigos de Araraquara e, ultimamente, e-mails longuíssimos com amigos queridos. Mas os e-mails rarearam, eu sei, e o mesmo mal acometeu este blog.

Acho que ainda tem jeito.

***
Pequenas Epifanias é o nome de um ótimo livro de crônicas que li nove anos atrás, do Caio Fernando Abreu. Jornalista gaúcho que trabalhava no Estadão, homossexual assumido e que morreu de Aids em 1996. Altamente recomendável.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Change we need, diria Obama

Tão abandonado esse blog, tão desatualizado, tão largado ao color full circles.

A impressão que tenho, mudando o layout, é a de começar um caderno novo.

Vamos ver se dá certo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Apenas papel impresso

As bolsas despencam mundo afora. A palavra recessão assusta mas, por enquanto, a crise ainda não chegou no bolso, que é o mundo real do dinheiro. Eu, que sou uma pessoa leiga no assunto, ouvi uma informação simples e boa. Esta semana o filósofo e economista Eduardo Gianetti foi entrevistado no Jornal Nacional. Pediram para ele falar se há algum aspecto positivo na crise. E ele disse que, talvez, essa convulsão no sistema financeiro tire o dinheiro do centro da vida das pessoas.
Dinheiro serve para comprar coisas que a gente precisa e outras que servem para nos deixar feliz. É meio, e não fim.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Da redacinha

[glub] Nossa! Que foi? O café está bom! A tia errou a mão então.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Das antigas

Esperávamos botar biquíni as moças e calções os moços para aproveitar o sol de Araraquara, mas o que se viu foram canelinhas friorentas de fora e braços protegido por casacos e moletons. A piscina ficou esquecida, coberta por uma lona, e o gramado foi usado por pouco tempo antes do toró. Os planos para a área externa foram abortados e os equipamentos mais solicitados foram a churrasqueira e o freezer. Só podia mesmo chover, ainda que na Morada do Sol, no encontro de 10 anos de formados da turma de colegial.
É que dez anos é bastante tempo. Mas nem tanto assim. Eu esperava ver uma ou duas crianças que fossem correndo pela chácara, mas representantes da vindoura geração não há. Sequer barriga de grávida. Que eu tenha conhecimento, dois casamentos de papel passado e dois ajuntamentos amorosos – desses, três enlaces foram este ano, só para ver o ritmo da galera. Muito bom reencontrar tanta gente querida das antigas, tanto abraço e sorriso sincero, muitas histórias próprias e atualizações dos casos de família. Pais que se separam, namoram ou se casam, irmãos que têm bebês. Carreiras com no máximo seis anos de existência (hm, acho que há uma exceção mais longeva), gente mudando de profissão. Enfim todos muitos jovens e animados. Adultos, mas muito pouco diferentes - pelo menos na aparência - de 1998, quando nosso terceiro colegial chegou ao fim no Colégio Progresso de Araraquara. Turma 323.
É uma característica de agora, casar mais tarde e ter filhos mais tarde ainda. Mais de uma pessoa comentou ‘com 27 anos meus pais já tinham dois filhos’. Sinal dos tempos. Com 27 anos meus pais eram casados havia dois, mas nada de filhos ainda, tinham casa própria. Hoje vejo muitas pessoas já perto dos 30 muito mais ligadas aos pais do que próximas de constituir a sua própria família. Ou, ainda que independentes, sem saber ao certo o que querer. Ou também, mesmo que saibam o que querem, casamento e filhos não está nos planos de tão já.
Divagações a parte, espero que o próximo encontro não seja o de 20 anos. É muito bom saber que tanto tempo depois, ainda há tanto em comum, tanta coisa que faz rir, muitas piadas internas que fazem efeito. Quero muito reencontrar essas pessoas de novo, e trazer algumas de volta para mais perto.
***
Preciso patentear minha memória. Fui instada a falar o nome todo – incluindo sobrenome do meio – de uma porrada de gente. Acertei a maioria.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Mundo virtual

Daí eu fui tentar mudar a minha foto do Orkut, porque já deu.
Cliquei na opção 'alterar': carregou, demorou e não deu em nada. Tentei umas duas vezes e nada.
Até que fui na opção 'remover foto'. Então o Orkut manifestou-se: "tem certeza? gostamos da sua foto..."
Pôxa, fiquei até sem jeito de mudar, falando assim, com jeitinho...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Um sonho realizado

Há uma menina da minha infância que já andou pelos meus pensamentos periféricos umas quatro vezes nos últimos dias. O nome dela é Carolina, a conheci na segunda série e nunca fomos amigas. Loira sardenta, com um ar permanentemente entediado. Um misto de blasé infantil com o desinteresse que a falta de informação pode causar. Algo do tipo se eu não conheço é porque não presta. Tacanha, a pobre, na mais tenra idade.
O maior sonho de Carolina, que na escola era Carol, mas apregoava ser Lola no balé, era usar aparelho ortodôntico. Um desejo comum e compreensível quando se tem oito anos. No ano seguinte, ela não estava mais no colégio. Rumores davam conta que os pais a transferiram para uma escola pública, forte indício de falta de dividendos.
No ano seguinte, durante a feira de ciências, ela reapareceu. O meu grupo havia montado um eletroímã no afogadilho, solução dada pela professora do laboratório depois que uma dezena de encontros do grupo para construir uma campainha não deram em nada a não ser bagunça. Ao lado, bem me lembro, outro grupo de meninas apresentava aos visitantes os olhos de um boi e suas partes constituintes. Aquilo não fazia o menor sentido para crianças da terceira série, mas, enfim, a seleção de trabalho não era nada rigorosa.
Carolina entrou na sala e percorreu cada experimento, até que chegou ao eletroímã. Neste momento, eu era a única garota do grupo presente. Ela se aproximou e ficou diante de mim. Certamente me reconheceu, um ano antes, éramos colegas de sala. Mas as crianças não têm o hábito de cultivar laços com amiguinhos que não se encontram todo dia. Era muito normal a criança mudar de escola e a gente nunca mais a vir. Por isso, creio, Carolina não me cumprimentou. Apenas prostrou-se diante de mim.
Mostrei o experimento: um prego se tornava um ímã quando um fio, ligado a uma bateria, era enrolado ao mesmo. Ela fez o ar blasé que melhor a caracterizava.
Optei por não cumprimenta-la. Pirraça. Ela se foi. Continuava entediada, mas não era mais a mesma. Seu rosto estava feiamente adornado com um freio de burro, nome dado no interior paulista ao aro de metal que sai boca e se prende a nuca com uma faixa de tecido. Devia estar exultante.

domingo, 17 de agosto de 2008

Cuidado: frágil

Quando termino de ler um livro tenho saudade dos personagens. Fiquei com Liesel Memimger, Rudy Steiner, Max Vanderburg e companhia um bom tempo na cabeça depois de “A menina que roubava livros” (Markus Zuzak). Recomendo fortemente.
Comecei “Piaf” (Pierre Duclos e Georges Martin) esta semana, e li a melhor descrição de Edith Piaf que posso imaginar. Isto é, comparando a descrição com o que assisti no filme.


“Observando, como todo mundo, que ‘ela não sabe executar muito bem as mímicas habituais dos cantores realistas’, acrescenta que ‘em compensação, ela inventa algumas que transpiram vida’. Naturalmente, a voz não podia ser deixada de lado, ‘uma voz que sai da alma’, mas também comovem seus olhos cor de chuva, ‘seus
grandes olhos com olheiras que engolem todo o seu rosto, seu sorriso encantador, seu perpétuo ar de tristeza, mesmo quando ri. E a tal ponto isso enternece que ‘se tem vontade de protegê-la, niná-la, acaricia-la, agrada-la e mima-la com coisas quentes e doces para remediar a maldade de uma existência que, até agora, jamais a poupou’”.


As aspas são atribuídas a um jornalista amigo dela, René Guetta, que a descreveu dessa forma antes de conhecê-la. Ele acrescentou, a respeito de quando Piaf canta: “Acho que somente nesse momento ela é feliz”. Tenho certeza que o ar de desamparo dela ajudou na aproximação deles.

O frágil enternece.

A vulnerabilidade de Edith Piaf me faz lembrar da minha própria.
O que me lembra uma música cantada pelo Ney Matogrosso. Poema é o nome. A composição é do Cazuza e do Frejat.

Poema

Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Muito vivos

Desde o dia 25 de julho deste ano (pelo menos isso!!) eu pelejo para que meu celular funcione. O anterior, de tecnologia CDMA, quebrou e não tinha conserto. O novo é de chip, tecnologia GSM, porque é só isso que existe agora. O problema? A Vivo não consegue migrar a linha de tecnologia para outra. O resultado? Estou sem celular desde 12 de julho, quando o finado finou-se.
Foram mais de dez e-mails trocados com a Vivo, dezenas de telefonemas para o 1058, algumas idas a loja do Calçadão, reclamação na Anatel e no Procon.
E, se alguém souber de simpatia, avise, please.
Eles são tão fofos e polidos que uma amiga sugeriu que eu colocasse o link daquela musiquinha "Vai tomar no cu" no e-mail para o Fale Conosco.
Dá vontade.
E hoje ainda me chega uma conta da Vivo. Mais 40'' de 1058 para cancelar a mesma.

Segue a resposta ao último e-mail.

Prezada Sra. Maria,
Boa tarde!

Ao final deste atendimento, por favor, atribua uma nota [tem certeza?] para aprimorar os serviços do Fale Conosco constantemente.Em atenção ao seu e-mail, queremos salientar nossas sinceras desculpas mediante o fato relatado em sua mensagem a respeito da mudança de tecnologia, lamentamos que esteja com problemas para utilizar o seu número em nossa base de acesso GSM.Ressaltamos que a VIVO conta com umaequipe especializada que [!] esta monitorando o seu caso para que seja solucionado este impasse.

Quanto ao seu questionamento, poderá adquirir um novo número de linha, através da compra de um novo Chip Vivo, em quaisquer lojas Vivo própria mais próxima de sua residência.[(!)³ que caras de pau)

Pedimos gentilmente que acompanhe à solução do processo XXXXXXX, pois não
descartamos em nenhuma hipotese a liberação de seu número na tecnologia GSM.Em caso de dúvidas nos colocamos à sua inteiradisposição. [é o mínimo que espero]


Contamos com a sua participação para avaliar o atendimento que acabou de receber [olha, tem certeza MESMO?] através do Fale Conosco. Para tal, por favor, cole o endereço que segue na barra de seu navegador da
internet: http://www.vivo.com.br/.

Atribua sua nota de 0(totalmente insatisfeito) a 10 (totalmente
satisfeito).

Cordialmente,
XXXXX XXXXX
Equipe Fale Conosco
Vivo.
Sinal de Qualidade [cuma? não entendi a piada...]
http://www.vivo.com.br/



OBSERVAÇÕES:
1) Mereceu nota 1 pela participação.
2) Os grifos e itálicos, evidentemente, são meus.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Revival

A novela "A Favorita" descambou geral. Os personagens se esgoelam na tentativa de se fazer entender, a Patrícia Pillar não convence como psicopata nem no jardim da infância e o Jackson Antunes andou levando uns sopapos na rua por conta de seu personagem desalmado.

A única coisa legal foi a Cláudia Raia, na sua fase fugitiva, ter ressucitado o Tonhão, da TV Pirata.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Clic clic clic

Eu estava com a câmera na bolsa, então resolvi registrara reintegração de posse no assentamento São Francisco de Salles, zona sul de Londrina, PR.

Invasão: 30 de abril de 2008.

Reintegração: 22 de julho de 2008.

Famílias: 227, segundo lideranças da invasão (não vi mais do que 70 gatos pingados).

Efetivo policial: 400 homens de 6 batalhões de Polícia Militar do PR, e alguns cães.

Os hómi chegaram às 7 horas, mas eram esperados desde as 5 da matina. As lideranças não esboçaram a menor intenção de resistir. Queriam aproveitar o serviço de mudança grátis para acampar em frente a Prefeitura, mas não rolou. Não teve quebra-quebra e nem bala de borracha. O máximo do vuco-vuco foi um barraco incendiado pelos próprios moradores, que, segundo a PM, era ponto de venda de droga. Um dos invasores estava tentando agitar e disse "é para sair do terreno, então vou ficar na calçada". Ele cheirava cachaça e não estava conseguindo adesões. Ainda não sei o desfecho.
















segunda-feira, 14 de julho de 2008

Não me diga com quem andas que eu não quero saber

Tem uma pessoa "x" do meu Orkut que atualiza seu perfil todos os dias. Quem é ela, par perfeito, sequências de cinco self-portraits no mesmo cenário, caras, bocas, olhares... Um elogio - de mau gosto - à própria imagem. O que mais me incomoda são as fotos, porque ocupam um baita espaço da minha tela. Sinceramente, não estou afim de saber pormenores da vida vida do "x" em questão.
A-do-ro saber da vida de algumas pessoas e acompanho as atualizações como se fosse novela. "X", por outro lado, não me dá nem uma comichãozinha. Nas faz nem cócegas na minha curiosidade. E o que eu acho que "x" deseja com o frenesi imagético é, exatamente, visibilidade.
A solução foi incluir a pessoa nos "não-conheço", já que não há como seleiconar pessoas por nome para não receber as atualizações.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Domingo na mesa

Um cartaz da Justiça eleitoral, de convocação para mesários voluntários, afirma que trabalhar nas eleições é um ato de cidadania. Ok. A publicidade oficial defende o voto como sinônimo de cidadania. Quem vota é cidadão. Voto não se vende. Ok.
O mesmo cartaz apresenta os benefícios para quem for mesário: dois dias de folga do trabalho por dia trabalhado como mesário e, para universitários, 20 horas de atividade extra-curricular. Se trabalhar como mesário é um ato de cidadania, acho que a convocação não deveria ser fundamentada no recebimento de vantagens. Voto não se vende e cidadania não se compra.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 2 milhões de brasileiros (!) são mesários. Ouvi dizer que é igual herpes, depois que pega, não se livra mais.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Escrever para compreender

Terminei ontem a leitura de “Dois Irmãos”, do amazonense Milton Hatoum. Fiquei hipnotizada, lendo sem parar, inclusive na cadeira do cabeleireiro. É a história de uma família. Fabulosa, ao mesmo tempo em que é simples: Yaqub e Omar, o Caçula, são os gêmeos filhos do comerciante libanês Halim. Eles se odeiam desde a infância. A família mora em Manaus, e é composta pela mãe Zana, a irmã Rânia e a cunhantã Domingas. A trajetória da família, dos anos 20 ao final dos 60 ou anos 70, é contada pormenorizadamente, cheia de digressões e segredos compartilhados.
A maior riqueza, eu acho, é a narrativa. Não se sabe quem é o narrador. A pessoa que nos conta as brigas, as paixões e as não poucas esquisitices da família de Halim permanece anônima em boa parte do livro. O principal mesmo, só no final. Vale a pena.
Mesmo sem saber quem era o narrador, percebi que ele queria saber, tanto quanto o leitor, como tudo aconteceu. Essa decisão de reescrever o passado e colocar tudo no seu devido lugar me lembrou o livro que li antes, “O Conto do Amor”, do psicanalista, cronista e agora romancista Contardo Calligaris. Ele escreve a partir dos diários do próprio pai, já falecido, e faz da narrativa um tecido que tem muito a ver com a vida de Calligaris – a profissão, o pai médico, a vida em Nova Iorque. Na ficção, Carlo Antonini é provocado por uma fala do pai pouco antes de morrer e, doze anos depois, tenta reconstruir uma viagem feita pelo pai nos anos 30, na Itália. Recomendo.
“Dois Irmãos” tem uma série de termos e expressões libanesas. “O Conto do Amor” apresenta ao leitor um punhado de lugares e pintores italianos. Em comum, a tentativa de compreender fatos da vida de pessoas muito próximas mas, que pela própria vida, ficam distantes.

domingo, 29 de junho de 2008

Exagero

Está passando na TV a propaganda do novo desodorante Garnier 48 horas, que garante máxima proteção e eficiência e blá-blá-blá por mais tempo. O brasileiro é um povo bem limpinho. No livro "18o8", Laurentino Gomes narra que as mulheres do povo se espantaram com a inhaca habitual dos nobres que vieram para o Brasil junto com a família real.
A expressão "nóis é pobre, mas é limpinho", é verdadeira em grande parte dos casos. Li em algum lugar que o brasileiro é o povo que mais consome cosméticos around the world.
Por isso, não vejo razão para um desodorante conter o cecê durante 48 horas, ou seja, dois dias.
Quem precisa disso?

terça-feira, 17 de junho de 2008

Janela na memória

Sempre gostei de escola. Gostava muito com força das aulas de interpretação de texto. Há um hiato, no ano de 1989, tempo em que a escola não foi um bom lugar. Foi o ano em que mudamos pai, mãe e irmão para Araraquara e tive o azar de ser aluna de uma professora esverdeada chamada Maria Tereza, que escrevia borbolêta e trocava os dois esses por cedilha em algumas palavras. Ela me dava queimação no estômago e nas têmporas, e eu chorava. Se a conhecesse hoje, seria enquadrada na categoria 'vaca'. O masculino de 'vaca' é 'puto'. Mas eu estava só na segunda série e vaca era só um bicho que dava leite. Sim, por que, apesar de ser uma criança da capetar, eu conhecia as coisas da fazenda.

No ano seguinte os textos todos das aulas de Português estavam reunidos numa apostila de espiral e capa azuis. Tinha muito carinho por aquele calhamaço. No final do texto, vinha uma outra sugestão de leitura, era uma plaquinha escrito "Não deixe de ler", mas onde, devido à minha pressa habitual, que era mais visível na infância, eu lia "Não deixe ler". Lá no segundo semestre eu fui compreender, de fato, o que estava escrito.

Um dos textos me marcou tanto que, até hoje, eu sei de cabeça. Mas a atividade proposta pela professora não me agradou muito: era para musicar a poesia. Para minha sorte, foi daquelas tarefas que ninguém faz e até a professora acaba esquecendo. Segue a relíquia da infância.

As meninas

Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina
a mais sábia menina.

E Maria
Apenas sorria:
"Bom dia!"

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.

Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"

Cecília Meireles (Ou Isto ou Aquilo)

domingo, 8 de junho de 2008

Minha música

Tenho uma música. Uma música feita para mim, única e exclusivamente.
Isso me envaidece, claro, e emociona. A autora é a cantora amiga e jornalista Rakelly Calliari. Ouça aqui.

GLOWING

Menina curiosa menina
Fecha os olhos pra ver o amanhã
Entre nuvens de março e o sol
Paulistanos olhando o farol
Waiting for love (chegou!)

Menina curiosa menina
Abre os olhos pra ver o amanhã
Reparando detalhes que só
Pra postar lá no trânsito of
Colorful circles

Flower that makes other grow up
Glowing in the dark

Friendship is love that never dies
Glowing in the dark

Sabe do novo som
Mora no sexto andar
Faz um café tão bom
Words are her work

Menina curiosa menina
Abre os olhos pra ver o amanhã
Que vem sem dizer como chegou
Ele vem pelos trilhos de um non-
stop Roller coaster

Flower that makes other grow up
Glowing in the dark

Friendship is love that never dies
Glowing in the dark


Menina curiosa menina feche os olhos pra ver o amanhã
Menina curiosa menina abra os olhos pra ver o amanhã

domingo, 25 de maio de 2008

É só o amor

Estava jantando co'pai outro no shopping e notei que havia uma cifra de música impressa no papel da bandeja. Olhei melhor: era uma música gospel. Todo o papel, aliás, continha mensagens bíblicas e trechos eram citados como resposta para determinadas perguntas.
Sem entrar no mérito se é adequado ou não imprimir a palavra de Deus no papel que vai embaixo dos pratos e que, portanto, corre o risco de ser respingado com gordura e afins, reproduzo a "resposta" para "o segredo da felicidade".


"Visto que sois eleitos, santificados,
amados por Deus, revesti-vos do sentimento da compaixão, benevolência,
humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros, e se alguém tiver
algum motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente; asim como o Senhr
vos perdoou, fazei o mesmo, também vós. E, acima de tudo, revesti-vos de amor: é
o vínculo perfeito. Reine em vossos corações a paz do Cristo, à qual fostes
todos chamados em um só corpo. Vivei na gratidão.

Que a palavra de Cristo habite em vós em toda a
sua riqueza: instruí-vos e advertí-vos uns aos outros com plena sabedoria;
cantai a Deus, em vossos corações, a vossa gratidão, com salmos, hinos e
cânticos inspirados pelo Espírito

Tudo o que podeis dizer ou fazer, fazei-o em
nome do Senhor Jesus, dando graças, por ele, a Deus Pai."

Colossenses 3 12-17

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Como já disse o comercial do Omo...

Não faço resoluções de ano-novo, mas, se tivesse preparado uma listinha para 2008, certamente incluiria algo do tipo “entender de uma vez por todas que a vida não pode ser asséptica, que atos têm conseqüências e só se anda para frente quando a vida é vivida de peito aberto e com confiança”.
Quando eu era criança, minha especialidade era deslizar por debaixo dos brinquedos do parquinho feito cobra. Ao final do dia, eu era a criança mais sujinha e minha mãe levava outra camisetinha para não passar vergonha no caminho até em casa. Devia haver olhares de reprovação das meninas que usavam meiazinhas de babado, mas eu não percebia.
Hoje, minha tendência à assepsia me irrita.
Falou e disse quem me chamou uma vez de “paladina das boas maneiras”.
Muito obrigada.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Blues

Hoje fez, em Londrina, um céu azul geada.
É aquele azul infinito, sem uma nuvem sequer a lhe salpicar a hegemonia.
Gosto bem é muito de céu azul geada, a luminosidade fica mais bonita, a grama mais verde e a tez da gente, mais saudável.
Quando eu era criança pequena já percebia a superioridade desse tom celeste. Mas, na época, tinha outro nome: era o azul-Margarete.
Margarete era uma vizinha da vila em São Paulo. Morávamos na casa 16 e ela, na 18. Era uma loira bem branquela e sardenta que tinha um marido alto, ruivo, narigudo, um filhinho adotivo e um Chevette branco. O marido era dono de uma Kombi igualmente branca. Quando o filho tinha uns 5 anos, eles se separaram.
O Chevette de Margarete, com o perdão da rima, era uma extensão da mesma. Ela cuidava e polia. Para proteger o painel do sol, colocava um protetor gigante em forma de óculos escuros sob o pára-brisa. Total anos 80.
Não faço idéia de que idade tinha Margarete. O fato é que ela era um tanto sem noção.
Do tipo capaz de dar banho no gato filhote na pia do banheiro com água quente – da rua, eu e outras crianças ouvíamos miados tenebrosos. Do tipo que, em dias de céu azul, mas de frio cortante, colocava short, miniblusa e ia para a pracinha da vila lavar seu Chevette. Lembro de ver, ela e o filhinho, descalços e com pouca roupa, fazer uma festa com a mangueira. A otite e dor de garganta eram certas na semana seguinte.
Anos depois, quando eu e o Gu protestávamos contra nossos pulôveres e gorros, a mãe advertia:
-“O céu está azul, mas é azul-Margarete!”

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Tá na moda

Os municípios precisam ter um plano diretor que norteie seu desenvolvimento pelas próximas décadas. Está no Estatuto das Cidades - não sei se todo e qualquer fim de mundo precisa, ou se é a partir de determinado número de habitantes.
Em Londrina, o aeroporto também tem um plano diretor.
O Parque de Exposições Governador Ney Braga também mereceu seu plano.
E ontem o entrevistado do primeiro escalão federal falou que as terras agricultáveis também serão enquadradas em um plano diretor. É para que o governo não seja acusado de usar terra demais para plantar oleaginosas e cana e deixar a comida de lado.

Não digo nada se daqui a algum tempo aparecer uma nova modalidade: planos diretores aplicados e pessoas...

sábado, 3 de maio de 2008

Maternidade

Dias desses presenciei uma cena no supermercado. Uma moça, mais ou menos da minha idade, portadora da Síndrome de Down, empurrava um carrinho desses equipados com cadeirinha de bebê. Ela se afastou um pouco e, quando voltou, tratou de ver como estava o seu nenê. Passou a mão na cabecinha e segurou, nas suas, a pequena mão. Fez micagens e mandou beijo.
Sentado na cadeirinha um boneco de plástico permanecia com os bracinhos esticados, rijos. A moça não se importou com a falta de reação, e empurrou o carrinho para perto de onde sua mãe fazia compras sem perder de vista sua menina grande. Era uma senhora de uns cinquenta e poucos anos, sóbria e elegantemente bem arrumada.
Tempos atrás essa cena me deprimiria. Mas achei tão bonito. Bonita também a naturalidade com que a mãe da moça conduziu, a seu lado, a filha empurrando seu netinho que nunca vai falar, andar ou crescer.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Essa juventude...

Duas observações acerca da maneira de se vestir dos adolescentes.

Alguém precisava dizer a eles que calça skinny tem limite. Outra dia vi um rapazola duns 16 anos, vestido de uniforme escolar. A calça era de tactel, mas era muito justa para o tamanho do mocinho, praticamente um marmanjo. Calça jeans mais justa para homem até entendo, mas esse tecidos mais moles... não fica bem mesmo!

Notei que as mochilas da Company, um clááássico dos anos 90, voltaram para as costas da molecada. As alças, porém, estão esticadas no máximo, e todo volume carregado fica na altura da bunda. Acho que a idéia é passar uma impressão de displicência. Ok, conseguiram. Mas deve ser meio incômodo andar com a mochila batendo nas cadeiras, isso deve.

domingo, 20 de abril de 2008

Oração de vó tem poder

Para quem quiser proteger os seus sugiro uma oração que aprendi com a avó Irene.

"Chagas abertas, coração ferido, sangue derramado de Nosso Senhor Jesus Cristo, esteja entre (nome da pessoa) e o perigo".


Assim ela abençoou, por décadas, filhos, sobrinhos e netos.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A doce avó

Quando a minha avó Irene prestava atenção em alguma coisa, ela sentava mais na ponta do sofá ou cadeira, apoiava os cotovelos sobre os joelhos e segurava as mãos uma com a outra. Nessa posição, com o tronco inclinado para frente, ela dirigia um olhar atento para o interlocutor. Se alguém interrompesse a fala, ela era rápida na repreensão, “olha, ele está falando”. Rápida, mas branda, como foi durante os 25 anos em que convivi com ela.

O assunto não interessava muito, o negócio dela era demonstrar, com olhos, tronco e membros, que estava absorvendo cada informação. Eu me deliciava com o pequeno ritual da minha seleta platéia. Um dia, na casa de Araraquara, eu fui explicar para a minha mãe alguma função do controle remoto. A avó já estava perto dos 80 anos, enxergando mal e um pouco aérea. Não deu outra: mesmo sem entender patavina – vovó nunca usou controle remoto – ela se debruçou sobre o tema e me deu alguns minutos sob seus olhos castanhos.

Com o passar do tempo ela foi se distanciando do mundo e das pessoas. Sinto que a diminuição da visão contribui muito para o exílio em si mesma. Passava os dias sentada na sua cadeirinha de almofadas alaranjadas que, originalmente, eram pretas e brancas. Tinha alguns trejeitos de velhinha, coçava a cabeça como uma velhinha. Ela morreu velhinha, graças a Deus.

Ficava com a televisão ligada por mera formalidade: se perguntávamos o que acontecia na novela, ela dava uma de joão-sem-braço. “Ué, você não está acompanhando?”
Nunca soubemos o quanto, de fato, ela enxergava.

Minha avó Irene é responsável por algumas das minhas recordações mais doces da infância. Ela levou eu e o Gu à missa, ao Mc’Donalds, ao Play Center (bem lembro da Montanha Encantada), fez passeios do TurisMetrô (só quem morou em Sampa nos anos 80 sabe o que é isso), passou álcool com eucalipto nas picadas de mosquito e me deu maçã raspadinha na boca quando eu ficava doente.

[numa tarde febril, lembro de ela ter cantado ‘Yes, nós temos banana’ umas 50 vezes para passar o tempo]

Ela me chamava de lindeza, tinha certeza que o Gu seria escritor e achava que o Corinthians era o melhor time do mundo. “Os outros times têm inveja do Corinthians, isso sim”, dizia. Não deixava ninguém vê-la sem dentadura, morria de pena dos pobres e foi integrante de uma CEB, as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica. Ela ia a uma favela da zona norte de São Paulo, perto do Center Norte, ensinar às mães noções de higiene e alimentação. Um dia, ela estava fazendo um curativo com mercúrio-cromo (‘mercúrio’ era sempre ‘cromo’ para a vó) numa criança da favela, e um marginal armado entrou no barraco para se esconder da polícia. Vovó ficou lá, firmona, cuidou de um filho de Deus e depois narrou o fato aos familiares.

Não deixava ninguém com fome. Qualquer pessoa que tocasse a sua campainha recebia um prato de comida. As notícias correm, e quase toda tarde ela servia uma refeição para mendigos e andarilhos. O hábito rendeu um nome genial: McPobre. Os pratos e copos usados pelo McPobre eram devidamente higienizados e escaldados com água fervente.

Quando ela já estava no fim, eu disse que a amava. Ela disse que também me amava.
Continuo amando.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Quem tem medo de montanha russa?

Nos agostos araraquarenses da minha adolescência, a Facira era parada obrigatória. Tinha a parte das máquinas agrícolas, o palco, os estandes de loja, os restaurantes, os boizinhos e vaquinhas. Lembro até que, em mil novecentos e êpa, retirei a versão atualizada do meu título de eleitor no estande da Justiça Eleitoral, depois que a sessão em que eu votava mudou de número. Facira também é cidadania, minha gente!
E tinha, invariavelmente, o parque de diversões.

[[Pausa para uma digressão.
Descobri que tinha medo de brinquedos de parque aos 13 anos quando, em visita ao Play Center com irmão e primos, senti pânico ao ir na montanha russa. "Super Jet" era o nome do monstro metálico. Lembro que segurei no braço do amigo bonito dos meus primos - ele tinha 17 anos e eu, portanto, não passava de uma fedelha - e, ao terminar o passeio, eu não sabia onde enfiar a cara. Amassei a manga da camiseta dele, de tanto que apertei. Ele, muito querido, não tirou sarro e nem contou para meus primos (o escárnio era certo). Hmmm... pelo menos não na minha frente. Fique muito, muito mal de ter sentido tanto medo.
Depois disso, fiquei com pavor desses brinquedos.
Fim da digressão.
De volta à Facira.]]

Lembro do Twist e do Amor Expresso, brinquedinhos inocentes. Tinha o temível Terminator, que rodava mais do que a Joelma do Calipso. Esse era o mais moderno: o cinto de segurança era automático; por isso, vivia dando chabú. Eu fui algumas vezes, sempre morrendo de medo, e fingindo cara de divertimento. Tinha um ainda mais apavorante, que era o Barco Viking - o cheiro de pneu queimado tomava conta na hora de parar o vai e vem. Nesse, fui uma vez e quase dei vexame. Eu não me conformava em ser medrosa e, um dia, me obriguei a ir no Kamikase. Surpreendentemente, não foi tão terrível.

Cresci. Não me recordo da última vez que fui à Facira e os brinquedos de parque, para minha alegria, ficaram no passado. Nada mais de ir só porque a turminha do Colégio Progresso estava indo. Liberdade, enfim.

Até que, no final do ano passado, a amiga Mana me revela que, assim como eu, tem medo de montanha russa. Decidimos, juntas, ir. Só para vencer o medo. Só para ver o que acontece. Tipo um desafio. "Se você for, eu vou".

Fomos no último domingo, debaixo do sol escaldante da 48º Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina. Uns 25 minutos de fila depois, alguns risos nervosos, comparações com os brinquedos ao lado , chegou nossa vez. Ao travar o cinto... caramba! Veio aquela baita sensação ruim, uma nesga de pavor. Mas, aos 27 anos, a gente já descobriu que tem coisa bem mais difícil na vida.

Ambas só abrimos os olhos depois do looping, e descemos tremendo. Comemoramos o feito como quem passa no vestibular.

Um minuto e vinte e oito segundos de emoção.

sábado, 8 de março de 2008

Infidelidade

Depois de me receber na porta, ela me levou ao cômodo cuja brancura era quebrada apenas por uma poltrona escarlate. Antecipei-me a tirar a roupa da cintura para baixo, como é costume nessas ocasiões, e me pus na horizontal. Só tiraria a parte de cima quando fosse preciso. Não era uma questão de desejo, que fique claro, mas de necessidade.
Ela foi cuidadosa, é verdade, e atenciosa. Puxou papo, comentou do calor, ligou o ar condicionado. Mas, para ser sincera, nem lembro da sua cara. Em dado o momento, tirei a parte de cima. E foi aí que a coisa desandou. Querendo mostrar serviço, a moça se equivocou. Aprecio minúcia, mas desde que comedida.
Findo o que me levou até lá, espichei os olhos e achei minha roupa na poltrona onde a tinha deixado. Apressei-me em me recompor. O pagamento é lá na frente, ela disse, ao me ver sacar a carteira, e se desculpou pela demora. Primeira vez, justificou-se. E eu nem achei que demorou.
Não foi uma experiência ruim. Mas só volto lá quando a depiladora oficial estiver com a agenda cheia novamente.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Tio kbssa no You Tube

Um dos irmãos do meu pai, justo o que levou o nome do meu avô, é o típico tio vida torta.
É uma figura.
As histórias que circulam na família são inenarráveis. Só para situar: o tipo foi integrante da Leões da Fabulosa, a torcida organizada da Portuguesa.
Algumas das pérolas foram filmadas no dia de Natal, e cá estão reunidas.
Produção familiar e caseira.

Kbssa Piadista
http://www.youtube.com/watch?v=nklwaymGE1g

Kbssa Lusa
http://www.youtube.com/watch?v=aKLR15X5Okk

Kbssa Facur
http://www.youtube.com/watch?v=tn_xlm4sR5s

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Imagens

Sempre gostei de fotografia. Quando ganhei, aos 13 anos, minha primeira câmera, uma Yashica MG-Motor (mais básica, impossível), senti uma alegria grande e que durou muito tempo. A segunda câmera, uma Canon Power Shot A400, veio em 2005, depois de uma ida a Ciudad de Leste. No hiato entre uma e outra, fiquei um bom tempo sem ter com que registrar imagens - além dos olhos e cérebro, claro.
Apesar do apreço pelas imagens, nunca me dediquei muito a isso.
Minha modesta, mas querida, câmera, serve para fotar amigos e parentes em dias de festa.
Mas o que mais me atrai são detalhes do ordinário.
E tem a possibilidade de fazer filminhos também.
Quero, um dia, fazer filminhos bonitos para botar aqui. "Inhos", porque é o que meu cartão de memória, por ora, permite.
E, por ora, vai um filminho que não tem nada demais. Eu e Sílvio Santos, no carro dafirma, voltando para a a mesma. Aviso: não tem nada demais mesmo. São só três minutos no trânsito da avenida Leste-Oeste.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Considerações tardias acerca de um filme que deu certo

Assisti ontem, na Globo, “2 filhos de Francisco”. Gostei. Na época do lançamento, eu li críticas favoráveis, portanto, já esperava um bom filme. Ainda assim, me surpreendi com a qualidade do roteiro e do elenco. Ok, a dupla pode pagar por isso, mas tem o mérito de ter contratado uma equipe competente.
A ressalva é que achei o final apoteótico demasiado apoteótico.

Algumas considerações:

1) Notei um certo zelo da emissora com a “película”. Embora eu tenha assistido “2 filhos de Francisco” pela primeira vez na TV, não me parece que o filme tenha sido cortado, como é comum para adequar à grade. Reforça essa idéia o fato de os créditos finais não terem sido suprimidos. Teve toda a choradeira da dupla de filhos, no palco do Olímpia, acompanhada da dupla de pais - com direito até às letrinhas subindo. Qual filme goza dessa moral na Globo?

2)Não é muito fácil admitir, mas achei a letra de “É o amor” bonita. Veja bem: “é o amor, que veio como um tiro certo no meu coração (...) que fez eu entender que a vida é nada sem você”. É romântico.

3) Na minha modesta opinião, o filme é melhor do que a dupla.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Feliz 2008

Enquanto esperava a carona do amigo para a ir à casa do outro amigo encontrar mais amigos na noite do dia 31, assisti parte do show da virada da Globo. Todo este preâmbulo é uma justificativa blasé só para dizer que eu estava na frente da televisão de passagem, que eu jamais assistiria "a sério" tal programa. Feitas as ressalvas, vamos ao fato.
Chamou a atenção, sobremaneira, que as pessoas que estavam na fila do gargarejo cantavam de cor as músicas de todas as bandas que passaram por lá, com igual empolgação. Decorar as letras de Asa de Águia e Chiclete com Banana, vá lá, é tudo farinha do mesmo saco de genéricos, ocupa a mesma parte no cérebro. Mas as mesmas pessoas que cantaram isso se esgoelaram para acompanhar Charlie Brown Jr., como pode? E aí teve Beth Carvalho, e a "coisinha tão bonitinha do pai" estava na ponta da língua, e não era só o refrão!
Isso me lembra da formatura da amiga no final do ano: forró, axé e sertanejo, tudo suscitava o mesmo remelexo festivo na "galera". Sem preferências por estilo.
Chata, eu.
Desejo um 2008 iluminado para amigos e desconhecidos.