segunda-feira, 28 de abril de 2008

Essa juventude...

Duas observações acerca da maneira de se vestir dos adolescentes.

Alguém precisava dizer a eles que calça skinny tem limite. Outra dia vi um rapazola duns 16 anos, vestido de uniforme escolar. A calça era de tactel, mas era muito justa para o tamanho do mocinho, praticamente um marmanjo. Calça jeans mais justa para homem até entendo, mas esse tecidos mais moles... não fica bem mesmo!

Notei que as mochilas da Company, um clááássico dos anos 90, voltaram para as costas da molecada. As alças, porém, estão esticadas no máximo, e todo volume carregado fica na altura da bunda. Acho que a idéia é passar uma impressão de displicência. Ok, conseguiram. Mas deve ser meio incômodo andar com a mochila batendo nas cadeiras, isso deve.

domingo, 20 de abril de 2008

Oração de vó tem poder

Para quem quiser proteger os seus sugiro uma oração que aprendi com a avó Irene.

"Chagas abertas, coração ferido, sangue derramado de Nosso Senhor Jesus Cristo, esteja entre (nome da pessoa) e o perigo".


Assim ela abençoou, por décadas, filhos, sobrinhos e netos.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A doce avó

Quando a minha avó Irene prestava atenção em alguma coisa, ela sentava mais na ponta do sofá ou cadeira, apoiava os cotovelos sobre os joelhos e segurava as mãos uma com a outra. Nessa posição, com o tronco inclinado para frente, ela dirigia um olhar atento para o interlocutor. Se alguém interrompesse a fala, ela era rápida na repreensão, “olha, ele está falando”. Rápida, mas branda, como foi durante os 25 anos em que convivi com ela.

O assunto não interessava muito, o negócio dela era demonstrar, com olhos, tronco e membros, que estava absorvendo cada informação. Eu me deliciava com o pequeno ritual da minha seleta platéia. Um dia, na casa de Araraquara, eu fui explicar para a minha mãe alguma função do controle remoto. A avó já estava perto dos 80 anos, enxergando mal e um pouco aérea. Não deu outra: mesmo sem entender patavina – vovó nunca usou controle remoto – ela se debruçou sobre o tema e me deu alguns minutos sob seus olhos castanhos.

Com o passar do tempo ela foi se distanciando do mundo e das pessoas. Sinto que a diminuição da visão contribui muito para o exílio em si mesma. Passava os dias sentada na sua cadeirinha de almofadas alaranjadas que, originalmente, eram pretas e brancas. Tinha alguns trejeitos de velhinha, coçava a cabeça como uma velhinha. Ela morreu velhinha, graças a Deus.

Ficava com a televisão ligada por mera formalidade: se perguntávamos o que acontecia na novela, ela dava uma de joão-sem-braço. “Ué, você não está acompanhando?”
Nunca soubemos o quanto, de fato, ela enxergava.

Minha avó Irene é responsável por algumas das minhas recordações mais doces da infância. Ela levou eu e o Gu à missa, ao Mc’Donalds, ao Play Center (bem lembro da Montanha Encantada), fez passeios do TurisMetrô (só quem morou em Sampa nos anos 80 sabe o que é isso), passou álcool com eucalipto nas picadas de mosquito e me deu maçã raspadinha na boca quando eu ficava doente.

[numa tarde febril, lembro de ela ter cantado ‘Yes, nós temos banana’ umas 50 vezes para passar o tempo]

Ela me chamava de lindeza, tinha certeza que o Gu seria escritor e achava que o Corinthians era o melhor time do mundo. “Os outros times têm inveja do Corinthians, isso sim”, dizia. Não deixava ninguém vê-la sem dentadura, morria de pena dos pobres e foi integrante de uma CEB, as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica. Ela ia a uma favela da zona norte de São Paulo, perto do Center Norte, ensinar às mães noções de higiene e alimentação. Um dia, ela estava fazendo um curativo com mercúrio-cromo (‘mercúrio’ era sempre ‘cromo’ para a vó) numa criança da favela, e um marginal armado entrou no barraco para se esconder da polícia. Vovó ficou lá, firmona, cuidou de um filho de Deus e depois narrou o fato aos familiares.

Não deixava ninguém com fome. Qualquer pessoa que tocasse a sua campainha recebia um prato de comida. As notícias correm, e quase toda tarde ela servia uma refeição para mendigos e andarilhos. O hábito rendeu um nome genial: McPobre. Os pratos e copos usados pelo McPobre eram devidamente higienizados e escaldados com água fervente.

Quando ela já estava no fim, eu disse que a amava. Ela disse que também me amava.
Continuo amando.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Quem tem medo de montanha russa?

Nos agostos araraquarenses da minha adolescência, a Facira era parada obrigatória. Tinha a parte das máquinas agrícolas, o palco, os estandes de loja, os restaurantes, os boizinhos e vaquinhas. Lembro até que, em mil novecentos e êpa, retirei a versão atualizada do meu título de eleitor no estande da Justiça Eleitoral, depois que a sessão em que eu votava mudou de número. Facira também é cidadania, minha gente!
E tinha, invariavelmente, o parque de diversões.

[[Pausa para uma digressão.
Descobri que tinha medo de brinquedos de parque aos 13 anos quando, em visita ao Play Center com irmão e primos, senti pânico ao ir na montanha russa. "Super Jet" era o nome do monstro metálico. Lembro que segurei no braço do amigo bonito dos meus primos - ele tinha 17 anos e eu, portanto, não passava de uma fedelha - e, ao terminar o passeio, eu não sabia onde enfiar a cara. Amassei a manga da camiseta dele, de tanto que apertei. Ele, muito querido, não tirou sarro e nem contou para meus primos (o escárnio era certo). Hmmm... pelo menos não na minha frente. Fique muito, muito mal de ter sentido tanto medo.
Depois disso, fiquei com pavor desses brinquedos.
Fim da digressão.
De volta à Facira.]]

Lembro do Twist e do Amor Expresso, brinquedinhos inocentes. Tinha o temível Terminator, que rodava mais do que a Joelma do Calipso. Esse era o mais moderno: o cinto de segurança era automático; por isso, vivia dando chabú. Eu fui algumas vezes, sempre morrendo de medo, e fingindo cara de divertimento. Tinha um ainda mais apavorante, que era o Barco Viking - o cheiro de pneu queimado tomava conta na hora de parar o vai e vem. Nesse, fui uma vez e quase dei vexame. Eu não me conformava em ser medrosa e, um dia, me obriguei a ir no Kamikase. Surpreendentemente, não foi tão terrível.

Cresci. Não me recordo da última vez que fui à Facira e os brinquedos de parque, para minha alegria, ficaram no passado. Nada mais de ir só porque a turminha do Colégio Progresso estava indo. Liberdade, enfim.

Até que, no final do ano passado, a amiga Mana me revela que, assim como eu, tem medo de montanha russa. Decidimos, juntas, ir. Só para vencer o medo. Só para ver o que acontece. Tipo um desafio. "Se você for, eu vou".

Fomos no último domingo, debaixo do sol escaldante da 48º Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina. Uns 25 minutos de fila depois, alguns risos nervosos, comparações com os brinquedos ao lado , chegou nossa vez. Ao travar o cinto... caramba! Veio aquela baita sensação ruim, uma nesga de pavor. Mas, aos 27 anos, a gente já descobriu que tem coisa bem mais difícil na vida.

Ambas só abrimos os olhos depois do looping, e descemos tremendo. Comemoramos o feito como quem passa no vestibular.

Um minuto e vinte e oito segundos de emoção.