terça-feira, 22 de julho de 2008

Clic clic clic

Eu estava com a câmera na bolsa, então resolvi registrara reintegração de posse no assentamento São Francisco de Salles, zona sul de Londrina, PR.

Invasão: 30 de abril de 2008.

Reintegração: 22 de julho de 2008.

Famílias: 227, segundo lideranças da invasão (não vi mais do que 70 gatos pingados).

Efetivo policial: 400 homens de 6 batalhões de Polícia Militar do PR, e alguns cães.

Os hómi chegaram às 7 horas, mas eram esperados desde as 5 da matina. As lideranças não esboçaram a menor intenção de resistir. Queriam aproveitar o serviço de mudança grátis para acampar em frente a Prefeitura, mas não rolou. Não teve quebra-quebra e nem bala de borracha. O máximo do vuco-vuco foi um barraco incendiado pelos próprios moradores, que, segundo a PM, era ponto de venda de droga. Um dos invasores estava tentando agitar e disse "é para sair do terreno, então vou ficar na calçada". Ele cheirava cachaça e não estava conseguindo adesões. Ainda não sei o desfecho.
















segunda-feira, 14 de julho de 2008

Não me diga com quem andas que eu não quero saber

Tem uma pessoa "x" do meu Orkut que atualiza seu perfil todos os dias. Quem é ela, par perfeito, sequências de cinco self-portraits no mesmo cenário, caras, bocas, olhares... Um elogio - de mau gosto - à própria imagem. O que mais me incomoda são as fotos, porque ocupam um baita espaço da minha tela. Sinceramente, não estou afim de saber pormenores da vida vida do "x" em questão.
A-do-ro saber da vida de algumas pessoas e acompanho as atualizações como se fosse novela. "X", por outro lado, não me dá nem uma comichãozinha. Nas faz nem cócegas na minha curiosidade. E o que eu acho que "x" deseja com o frenesi imagético é, exatamente, visibilidade.
A solução foi incluir a pessoa nos "não-conheço", já que não há como seleiconar pessoas por nome para não receber as atualizações.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Domingo na mesa

Um cartaz da Justiça eleitoral, de convocação para mesários voluntários, afirma que trabalhar nas eleições é um ato de cidadania. Ok. A publicidade oficial defende o voto como sinônimo de cidadania. Quem vota é cidadão. Voto não se vende. Ok.
O mesmo cartaz apresenta os benefícios para quem for mesário: dois dias de folga do trabalho por dia trabalhado como mesário e, para universitários, 20 horas de atividade extra-curricular. Se trabalhar como mesário é um ato de cidadania, acho que a convocação não deveria ser fundamentada no recebimento de vantagens. Voto não se vende e cidadania não se compra.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 2 milhões de brasileiros (!) são mesários. Ouvi dizer que é igual herpes, depois que pega, não se livra mais.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Escrever para compreender

Terminei ontem a leitura de “Dois Irmãos”, do amazonense Milton Hatoum. Fiquei hipnotizada, lendo sem parar, inclusive na cadeira do cabeleireiro. É a história de uma família. Fabulosa, ao mesmo tempo em que é simples: Yaqub e Omar, o Caçula, são os gêmeos filhos do comerciante libanês Halim. Eles se odeiam desde a infância. A família mora em Manaus, e é composta pela mãe Zana, a irmã Rânia e a cunhantã Domingas. A trajetória da família, dos anos 20 ao final dos 60 ou anos 70, é contada pormenorizadamente, cheia de digressões e segredos compartilhados.
A maior riqueza, eu acho, é a narrativa. Não se sabe quem é o narrador. A pessoa que nos conta as brigas, as paixões e as não poucas esquisitices da família de Halim permanece anônima em boa parte do livro. O principal mesmo, só no final. Vale a pena.
Mesmo sem saber quem era o narrador, percebi que ele queria saber, tanto quanto o leitor, como tudo aconteceu. Essa decisão de reescrever o passado e colocar tudo no seu devido lugar me lembrou o livro que li antes, “O Conto do Amor”, do psicanalista, cronista e agora romancista Contardo Calligaris. Ele escreve a partir dos diários do próprio pai, já falecido, e faz da narrativa um tecido que tem muito a ver com a vida de Calligaris – a profissão, o pai médico, a vida em Nova Iorque. Na ficção, Carlo Antonini é provocado por uma fala do pai pouco antes de morrer e, doze anos depois, tenta reconstruir uma viagem feita pelo pai nos anos 30, na Itália. Recomendo.
“Dois Irmãos” tem uma série de termos e expressões libanesas. “O Conto do Amor” apresenta ao leitor um punhado de lugares e pintores italianos. Em comum, a tentativa de compreender fatos da vida de pessoas muito próximas mas, que pela própria vida, ficam distantes.