Ela se chama Kátia, mas podia ser Macabéa.
Cabelo curto tonhonhóin bem miudinho, brincos de arame em forma de coração. Discreta, só conversa com as clientes quando é solicitada. Em silêncio, se concentra nas cutículas e cantinhos mais difíceis e faz uma tromba enquanto trabalha.
Não é mau humor, me parece, é o mais puro estado de alienação do universo ao seu redor.
Já a flagrei esquadrinhando as clientes, nos momentos de folga entre um pé e uma mão.
Com os ombros levemente arqueados, faz o mesmo muxoxo de quando está operando o alicate. E espreita.
Observa e demonstra analisar com a mesma meticulosidade que dedica às unhas e membranas os gestos, expressões e narrativas de seu público.
É fato: a Macabéa postiça presta muito mais atenção na fala de outras clientes do que na de suas.
Não é bonita e nem feia. Não parece alegre e nem triste. E nem é engraçada.
Tenho a impressão de que ela é muito tímida.
Macabéa trabalha no salãozinho da rua debaixo de casa. Só tive a oportunidade de ser atendida por ela duas vezes - é a mais requisitada do salão.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
A vida é trânsito II
Este blog existe desde 2007 e, ano a ano, escrevo cada vez menos posts.
Não é uma marca nada lisonjeira.
O nome "A vida é trânsito" surgiu de uma conversa com uma amiga na qual concluímos: a vida é trânsito. Hoje entendo que a vida é trânsito, é encontro, é desencontro, é um amontoado de gente tentando ser feliz.
Ninguém é feliz sozinho. Nas minhas mudanças de lar mais recentes - foram três cidades e quatro lares em menos de um ano - tive muitos momentos daqueles em que você, de repente, se vê em meio a um bando de gente semi-conhecida. É uma dureza. Ainda bem que entre os semi-conhecidos surgiram alguns amigos. Não são muitos, mas são amigos, e isso é o que importa.
Outro dia eu vi uma entrevista com o ator e roteirista argentino Ricardo Darín. A repórter, já no fim da entrevista, perguntava a respeito do casamento dele. Darín é casado há mais de 20 anos, separou-se e voltou para a mesma mulher. Percebi uma certa emoçãozinha típica das pessoas que se sentem agraciadas pela vida ao falar dela. Ele disse:
-"É ela quem, há 20 anos, faz com que as coisas pareçam estar sobre os trilhos".
Puxa vida, essa frase me soou tão bem!
"Estar sobre os trilhos" me dá a ideia de uma direção certeira, um rumo.
Um trânsito que sabe onde vai.
(Vejam: ele falou "pareçam estar". Pé no chão, o hermano.)
Explicado o nome do blog, vamos ao porquê do blog.
Sempre gostei de ler. Sempre gostei de escrever.
Penso que me explico melhor escrevendo do que falando.
E queria escrever sobre as coisas que gosto: observações da ordem da subjetividade muito pouco relevantes para o progresso da humanidade.
Penso neste blog como um caderno que vi ontem à venda numa papelaria que adoro no Largo do Machado.
Lindo, capa lisa de papel cartão, folhas de papel amarelado e encorpado.
Cantos arredondados.
Na contra capa, um aviso: caderno para escrita agradável.
É essa escrita que eu valorizo.
***
Post A vida é trânsito
Não é uma marca nada lisonjeira.
O nome "A vida é trânsito" surgiu de uma conversa com uma amiga na qual concluímos: a vida é trânsito. Hoje entendo que a vida é trânsito, é encontro, é desencontro, é um amontoado de gente tentando ser feliz.
Ninguém é feliz sozinho. Nas minhas mudanças de lar mais recentes - foram três cidades e quatro lares em menos de um ano - tive muitos momentos daqueles em que você, de repente, se vê em meio a um bando de gente semi-conhecida. É uma dureza. Ainda bem que entre os semi-conhecidos surgiram alguns amigos. Não são muitos, mas são amigos, e isso é o que importa.
Outro dia eu vi uma entrevista com o ator e roteirista argentino Ricardo Darín. A repórter, já no fim da entrevista, perguntava a respeito do casamento dele. Darín é casado há mais de 20 anos, separou-se e voltou para a mesma mulher. Percebi uma certa emoçãozinha típica das pessoas que se sentem agraciadas pela vida ao falar dela. Ele disse:
-"É ela quem, há 20 anos, faz com que as coisas pareçam estar sobre os trilhos".
Puxa vida, essa frase me soou tão bem!
"Estar sobre os trilhos" me dá a ideia de uma direção certeira, um rumo.
Um trânsito que sabe onde vai.
(Vejam: ele falou "pareçam estar". Pé no chão, o hermano.)
Explicado o nome do blog, vamos ao porquê do blog.
Sempre gostei de ler. Sempre gostei de escrever.
Penso que me explico melhor escrevendo do que falando.
E queria escrever sobre as coisas que gosto: observações da ordem da subjetividade muito pouco relevantes para o progresso da humanidade.
Penso neste blog como um caderno que vi ontem à venda numa papelaria que adoro no Largo do Machado.
Lindo, capa lisa de papel cartão, folhas de papel amarelado e encorpado.
Cantos arredondados.
Na contra capa, um aviso: caderno para escrita agradável.
É essa escrita que eu valorizo.
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