domingo, 3 de outubro de 2010

"Viver ao teu lado é um tormento"

Algum dia da semana passada foi dia da secretária.

As duas do andar em que trabalho, senhoras na casa dos 50, foram parabenizadas com um lanchinho e flores dadas pelos respectivos chefes.
Enquanto os dois buquês de rosas vermelhas aguardavam a vez de serem entregues, tinham a companhia de uma cesta de café da manhã (acompanhada de um vaso de kalanchoe alaranjadas) e de um vaso de lírios brancos.
Chegaram até a copa por engano. O destinatário era uma mulher que, para fins de narração, será chamada de Misses Lane. A referida dama não foi encontrada, não havia ninguém com aquele nome no prédio, destinatário desconhecido.

No dia seguinte, motivadas pela curiosidade (mas usando a necessidade de dar destino às plantas como pretexto) as duas secretárias que haviam sido homenageadas na véspera violaram o cartão.

Um caligrafia feminina e arredondada dizia que sua vida havia mudado depois que Misses Lane havia entrado em cena, e que esperava que, um dia, pudessem estar a dois. No verso do cartão, a sentença: "Viver ao teu lado é um tormento".

Mil conjecturas mobilizaram os colegas. Em todas a hipóteses, a certeza de se tratar de um amor proibido. E nada de Misses Lane dar o ar da grça e acabar com o mistério.

Faltando uns dez minutos para o fim do expediente, ela aparece: uma moça de uns 35 anos, leve sobrepeso, cabelos e olhos pretos, rosto redondo. É contratada de um empresa terceirizada de limpeza e trabalha no prédio ao lado.

Eu não dei conta e ficar e ver a reação ao ler o cartão - àquela altura, já violado e lido.

Depois me contaram que ela disse que era casada e que o galanteador devia ser um vizinho. "Um garoto", ela disse.

Não colou. Uma das secretárias cinquentonas tem certeza de que o apaixonado é o chefe de Misses Lane.
Encontrei-a em seguida e não resisti. Perguntei: sendo casada, como ela entraria com a cesta em casa? Uma colega da terceirizada se prontificou a dividir a cesta com as outras colega.
Fica a dúvida: quem é o atormentado?