terça-feira, 6 de maio de 2008

Blues

Hoje fez, em Londrina, um céu azul geada.
É aquele azul infinito, sem uma nuvem sequer a lhe salpicar a hegemonia.
Gosto bem é muito de céu azul geada, a luminosidade fica mais bonita, a grama mais verde e a tez da gente, mais saudável.
Quando eu era criança pequena já percebia a superioridade desse tom celeste. Mas, na época, tinha outro nome: era o azul-Margarete.
Margarete era uma vizinha da vila em São Paulo. Morávamos na casa 16 e ela, na 18. Era uma loira bem branquela e sardenta que tinha um marido alto, ruivo, narigudo, um filhinho adotivo e um Chevette branco. O marido era dono de uma Kombi igualmente branca. Quando o filho tinha uns 5 anos, eles se separaram.
O Chevette de Margarete, com o perdão da rima, era uma extensão da mesma. Ela cuidava e polia. Para proteger o painel do sol, colocava um protetor gigante em forma de óculos escuros sob o pára-brisa. Total anos 80.
Não faço idéia de que idade tinha Margarete. O fato é que ela era um tanto sem noção.
Do tipo capaz de dar banho no gato filhote na pia do banheiro com água quente – da rua, eu e outras crianças ouvíamos miados tenebrosos. Do tipo que, em dias de céu azul, mas de frio cortante, colocava short, miniblusa e ia para a pracinha da vila lavar seu Chevette. Lembro de ver, ela e o filhinho, descalços e com pouca roupa, fazer uma festa com a mangueira. A otite e dor de garganta eram certas na semana seguinte.
Anos depois, quando eu e o Gu protestávamos contra nossos pulôveres e gorros, a mãe advertia:
-“O céu está azul, mas é azul-Margarete!”

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