terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A União faz memória

Muito antes da internet existir, antes de os programas de culinária serem tão interativos, antes mesmo de o açúcar de tornar um ingrediente abominável na dieta das pessoas saudáveis e esbeltas, uma rede de donas-de-casa disseminava receitas gostosas e engordativas.
Elas trocavam segredinhos de forno e fogão entremuros, ensacando as compras em cartuchos de papel pardo no supermercado. Davam dicas, mas não entregavam o ouro, afinal, descobrir a quantidade exata e maneira correta de misturar e levar ao fogo os ingredentes poderia significar ter sua receita eleita. Eleita para figurar nas páginas de um livro, ao lado de outras delícias, talvez fotografada em um cenário cuidadosamente preparado para, em um segundo, transportar o leitor para um chá na casa da avó, da tia ou da vizinha-boleira-de-mão-cheia. Pode ser chá, café ou conhaque, a bebida não importa muito, desde que servida numa xícara ou cálice de desing que não deixa dúvida: os anos eram os 70 e 80.
À cata de uma receita gostosa e não muito difícil para a ceia de Natal, fui buscar inspiração nos livros de receita União que a minha mãe guarda. Encontrei o "Chiffon do Coração" num livro que foi presenteado a minha mãe em 1975, por uma amiga já falecida. Eu simplesmente adoro folhear esse livros e me demorar na fotografias e no cheiro das páginas. São bolos, tortas, mousses, rosquinhas, toda sorte de doces servidos em travessas, adornados com guardanapos, açucareiros e espátulas cujos arabescos não deixam dúvidas da época.
Cada receita vem acompanhada do nome de quem a enviou com endereço. O "Chiffon do Coração" é atribuído à dona Rosina Aquino, da cidade de Lorena-SP. Ah, os tempos eram outros! Tenho minhas dúvidas se, nos atuais tempos bicudos as donas-de-casa deixariam seus nomes com endereço completo serem publicados num compêndio de receitas. O risco é, dias depois da publicação, a dona-de-casa começar a receber malas-direta com propaganda de utensílios de cozinha. É daí para pior. Algum golpista poderia tentar passar alguma lorota por telefone, usando como mote a tal da receita.
É um prazer extra ver a autoria das receitas. Descobri que as moradoras de Cornélio Procópio-PR eram assíduas colaboradoras dos livros de receita da União. Aliás, há uma receita que foi enviada por uma moradora da rua Professor João Cândido, em Londrina, por onde tantas e tantas vezes passei nos últimos nove anos. "Torta de Castanha do Pará" é a obra da dona Elizete O. Nascimento, que via a João Cândido do sexto andar. Na época da edição do livro, duvido que minha mãe soubesse que existia um lugar chamado Cornélio Procópio e, garanto, não imaginava que iria se afeiçoar tanto a Londrina.
Qual seria a utilidade de divulgar o endereço da doceira? Dar mais credibilidade e autenticidade na hora de uma amiga fazer inveja para outra, exibindo como troféu sua receita impressa e devidamente creditada? Ou permitir que as cozinheiras se visitassem, levando e trazendo segredos de forno? Acho improvável a segunda hipótese. Penso que o que deveria rolar, na verdade, era a troca de receitas pelo correio. Uma dona-de-casa de Tubarão-SC enviando receitas que ficaram fora do livro para uma colega sem rosto de Itu-SP, que escreve relatando que adorou a receita publicada e gostaria de receber outras por que seu marido provou e elogiou aquela.
Gosto tanto desses livros porque me falam de uma época em que a vida era mais simples, em que havia tempo para a mulher burilar seus talentos na cozinha. Um tempo em que havia gente suficiente nos lares para provar e dar palpites no resultado. Um tempo em que cortar o açúcar era apenas para os diabéticos.
A cada página uma pérola sobre os benefícios do açúcar. Tipo essa:
"Açúcar é energia, é o 'carvão dos músculos', na sábia expressão de Claude Bernard. Criança convenientemente suprida de açúcar é criança saudável, corada, bem disposta."
Sempre puxando a brasa para a sardinha da UNIÃO:
"Cuidado ao preparar a mamadeira do seu filhinho! Use somente açúcar UNIÃO, puríssimo, refinado a mais de 120 graus."
Pra mim, é quase como rever um álbum de fotos de uma época que deixou saudades.
***
Chiffon do Coração nada mais é que uma mousse de chocolate meio amargo.
Vamos ver se consigo executar a prescrição de dona Rosina.

domingo, 6 de dezembro de 2009

atchim

Estou com um daqueles resfriados liquefeitos. É só eu beber um copo de água que a coriza começa, bem chatinha. Enquanto estou com dor de cabeça e no corpo, o sol brilha e as pessoas mergulham no Oceano Atlântico.
Daqui de casa ouço os urros que vêm do Maracanã. Daqui a pouco o jogo começa. Acho bonito, e até gostaria de ter ido ao estádio, mas não compartilho.
Talvez um certo descompasso momentâneo, um delay, com a Cidade Maravilhosa.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Mudança de hábito

Tá quente. Muito quente.
A rosa amarela murchou devido ao calor. A violeta, idem.
O gadget do meu computador informa que está 24 graus agora no Rio de Janeiro, com chuva, mas a realidade me faz discordar. A sensação térmica dentro de casa é de uns 30. E NÃO está chovendo.
Por isso, aderi ao ventilador. Ele está lá mesmo, no teto, por que não liga-lo? É que eu nunca fui amiga de vento, é só ligar ventilador que meu nariz tranca. Porém, agora, isso passou. Bem interessante.
Outro hábito recém-adquirido é tomar água gelada. Nunca fui fã. Mas a água sai morna do filtro nesses dias (e noites) escaldantes. Do tipo que dá dor de barriga de tão quente. Então, agora tenho sempre uma pedrinha de gelo no copo de água. É um gelado diferente da água que sai da geladeira. Sei lá... um gelado mais refrescante e menos intenso.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O cheiro do aroma da essência

É possível que eu tenha pesadelos hoje ao me deitar. Visitei alguns apartamentos no final da tarde e encontrei pessoas e cenários medonhos. Mas o que mais me desgosta nos apartamentos que busco para alugar é o cheiro. Já começa na rua. Na zona sul do Rio tudo é velho, e o aroma de criolina, misturado ao calor úmido, chega em lufadas.
No Largo do Machado, assim que dona Zilda, a síndica, abriu a porta, senti um cheiro velho de umidade. Mas o apartamento é ajeitado, tem uma micro cozinha que, embora micro, comporta os eletrodomésticos. E tem uma sala grande, com taco brilhoso. E ainda tem uma pequena área. Embora, ao acender o lustre da sala, eu tenha tido uma péssima impressão e pensado que, à noite e sozinha, eu certamente sentiria medo do lustre. Um lustre pesado e antigo, de bronze, a me testemunhar. Mas ainda assim, estava valendo a pena. Porém, uns passos adiante, no quarto, encontro a origem do olor: manchas e tacos estufados no canto do cômodo. Impregnada pelo cheiro de coisa mau cuidada, olhei para dona Zilda, que me olhava por detrás de uma armação azul-marinho. Acho que não dá, eu disse, enquanto olhávamos para o teto: a mancha começava, bem discreta, no teto, e se imiscuía paredes abaixo.
Hoje foi um entra e sai de portas pantográficas. Aquelas portas de elevadores que parecem uma sanfona de metal. No Catete, cheguei a olhar um conjugado. A melhor coisa era a parte de fora. Dentro, além do pouco, pouquíssimo espaço, havia o buraco reservado para o ar-condicionado que é, literalmente, um buraco na parede. Em outro, fiquei estupefacta. Havia uma sala minúscula, uma sacada idem, um banheiro ibidem (com o chuveiro em cima do vaso) e uma coisa, no canto da sala, que era um arremedo de cozinha. Tudo velho e fedido. Notei uma saída para gás, onde, imagino, deve ser acoplado um mini fogão, e, o mais absurdo: uma cortina no-jen-ta, logo a frente, na tentativa de separar os ambientes. Se fiquei 25 segundos lá dentro, é muito.
A busca continua, companheiros.

***

Amanhã não tem educação física, mó do apagão. Precisa economizar água.

***

A culpa é da Madonna. "Jesus, apaga a luz", teria dito a diva.
Aliás, chamada de capa do Meia Hora ontem: "Ai, Jesus! Madonna conheceu a sogra."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Memórias do coração

Adoro gaúchos. Como nunca fui para o Rio Grande do Sul, todos gaúchos que conheço estão fora de sua terra natal. Daí eu sempre ser testemunha de um apreço exagerado pelas coisas do sul, da camisa do Grêmio à cerveja Polar, da música gaudéria às expressões da terra.
Minha amiga gaúcha que mora em Curitiba é a mais recente no meu rol de gaúchos fora da "pátria". No carro dela toca Cidadão Quem, Wander Wildner, Cachorro Grande e umas músicas gaudérias que nunca ouvi na vida e mais algumas coisas da região sul, como Armandinho - que é gaúcho, mas mora em Santa Catarina.
Ok, Armandinho não é nenhum primor musical. O que conheço dele são as músicas que eu ouvia enquanto esperava a fila do Super Muffato andar em Londrina, e o DVD do Armandinho tocava ad infinitum no mostruário de TVs de LCD. É só. E nesse contato rápido no supermercado a impressão que tive não foi das melhores.
Mas fui surpreendida essa semana, ao andar de carro com a amiga gaúcha. Um refrão não me saía da cabeça. A música chama “Outra noite que se vai”, e deve ser bem conhecida. Mas como eu não conheço Armandinho, poderia pensar que era alguma coisa dos anos 90, talvez 80, que eu tinha registrado no HD mental.

Então me diz alguma coisa
Toca um Beatles na guitarra
Pra lembrar
daquele tempo
Pra sempre ou só por um momento
Me dá um beijo na boca
E depois me leva pra tua casa

Não toco guitarra. Mas tenho muitos “tempos” para recordar. A questão é onde guardar as memórias do coração, que às vezes até doem de tão saudosas?
Os gaúchos sabem. Não guardam. Vivenciam sua memórias no dia-a-dia, a cada jogo do Grêmio (ou Internacional, vai saber), a cada gole de chimarrão.
De certo modo, minha tranquilidade em saber que não vou pegar o sotaque carioca vem daí, do apreço às minhas raízes paulistas e um pouco paranaenses. Considero impossível que eu venha a falar araxxxtado. Nesse caso, até a frase “nunca diga nunca” me parece descabida. E considero impossível que eu deixe de sentir saudade de Londrina, minha casa, e das pessoas daqui. Ainda bem.
Cada rosto conhecido que encontro representa um alívio.

domingo, 11 de outubro de 2009

Publicidade

No Centro do Rio de Janeiro, Magaiver é a solução para problemas de ordem eletro-eletrônica.
Com garantia.



quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Abstinência de EAOT

ADORO sonhar com Ciaar.
Acontece todo dia.
Mais um item para a lista de sequelas saudáveis.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Oficiais, fora de forma!


Impressionante sentir tanta falta de gente que, 13 semanas atrás, eram estranhos para mim. Mas é possível e aconteceu: viramos um grupo e, agora que o EAOT 2009 acabou, pôxa vida, deixa muitas saudades.
Não é só comigo. Jabbur conta que fez a viagem de volta para casa ouvindo hinos no Mp4. Nolasco relata que anda marchando pela casa, "involuntariamente". No Orkut, dezenas de scraps sentimentais. Eu também tenho das minhas sequelas: CD de hinos e toques de corneta (!) na veia e andar cadenciado, fazendo uma paradinha imaginária. Sem falar nos jargões. "Acabou, senhores."
Fui para lá com alguns medinhos e cheia de expectativa. Descobri que meu limite fica lá adiante do que foi pedido e que a vida na caserna, apesar da auteridade, reserva gratificantes surpresas. Não somos nós, egressos da turma Kairós, um bando de doidos. Temos saudade do nosso tempo perfeito. Percebi que, na limitação da vida de estagiários, sem poder fazer um monte de coisas, surgem outras muito recompensadoras.
Não dá para falar do que eu mais gostei porque eu gostei de tudo. Ok, a quinzentena é realmente difícil. Mas, entendendo o propósito da coisa, é possível enfrenta-la com serenidade. E só é possível porque é em grupo. Nessa etapa, o grupo é fundamental. Depois, se torna indispensável.
Não dá para comparar as amizades que fiz na turma Kairós com meus outros amigos, porque são laços que surgiram em contextos muito diferentes. O que posso dizer é que atinge uma intimidade muito grande em muito pouco tempo, e um nível de comprometimento difícil de ver.
É porque precisamos um do outro que surgem as afinidades. Mas não é só isso. Gostamos de precisar um do outro, realmente gostamos muito uns dos outros. Tanto que passamos finais de semana grudados, em bando.
Só tenho boas recordações.
Tenho muitas saudades.
Mal vejo a hora de começar a rever o povo.
***
Delícia é rever os amigos londrinenses.
Voltei na confortável condição de visita. Dorzinha do "tchau" que se aproxima.






sábado, 22 de agosto de 2009

Thank you

Estou longe daqueles que amo, mas estou bem e feliz. Descobri novas e incríveis pessoas que hoje moram no meu coração. Amo um punhadinho pequenininho dessas.
Está tudo dando certo, muito certo!
Sinto aquela gratidão boa de sentir a Deus, pela vida, por tudo de bom e de ruim, se é que existem de fato coisas ruins nessa vida.
Quando olho para trás, vejo o quanto sou afortunada, o quanto os desafios que me aparecem são tão necessários para mim. O quanto são necessários. O quanto preciso melhorar. Muita gratidão por todas as pessoas. Todas.
E com essa visão que sigo em frente.
Se há algo que aprendi é que preciso ficar 100% do tempo atenta, cuidar dos pensamentos e sentimentos, vigiar-me.
Até as cicatrizes tem o lado bom: não nos deixam esquecer.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Comunicação


Gostei muito do que conheci hoje.

Estou, positivamente, surpresa!


domingo, 16 de agosto de 2009

Novos ares



Hoje fiz meu primeiro voo a serviço da FAB. Foi num Hércules C-130. Uma aeronave de carga. Aquele aviãozão camuflado com quatro hélices, duas em cada asa. Foi uma experiência!

Cinco colegas vomitaram, com direito a cilindro de oxigênio. Fiquei firmona, mas dei graças a Deus quando pousou por que o cheiro, misturado ao calor, estava tornando a situação bem difícil. Ah, detalhe: protetores auriculares full time para aguentar o barulho.

Essa foi mais uma das muitas "primeiras vezes" dos últimos dois meses e meio. Me descobri mais forte, mais "safa", mais segura do que eu poderia imaginar. E que ninguém sabe tudo, mas com disposição e persistência, é possível aprender qualquer coisa. E praticar, praticar...

Uma das coisas interessantes do treinamento militar é que, como você não tem a opção "não fazer", você faz e descobre que sabe fazer, mas tinha medo. Isso tem muito a ver comigo. Cumprindo ordens, aprendi muito.

Cheguei hoje à capital federal e agora, depois do treinamento militar, vou conhecer a respeito da atuação do jornalista. Amanhã é dia de envergar um uniforme muito bem passado e vincado e encontrar autoridades.
***
Procura-se (incessantemente) um ferro de passar 220v.

domingo, 2 de agosto de 2009

Fragmentos

Continuo sem me lembrar dos sonhos.
Meu armário está cada vez mais apertado.
Meu bíceps está cada vez maior.
A carência bate forte.
Tenho protetores auriculares para dormir.
Julho foi o mês mais quente em BH nos últimos muitos anos - o que não impede o frio à noite.
Perco meu moleton preto a cada 15 dias, mas ele sempre volta.
Perdi um xampú de R$ 45 que não voltou mais.
Essa semana tem três provas e um acampamento, o que não deixa de ser uma prova.
Em dois meses amizades recentes mudam.
***
Na minha cabeça passam fragmentos de coisas que vivi, de maneira desconexa. De repente, vêm coisas que aconteceram há 15 anos, em seguida aparece uma caminhada às margens do Igapó, minha república de cinco anos atrás, uma cena de infância. Tudo misturado, agitado por acontecimentos intensos dos dias frenéticos que tenho aqui.
***
Faltam 32 dias.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Em frente

Acho que começou a reta final. Marchar de noite para ensaiar juramento, depois de um dia calorento com aula e atividade física, é muita luta.
Mas eu gosto. Gosto e me irrito com quem reclama.
Amanhã tem cabo-de-guerra. Bom para extravasar.
Meias molhadas nas mãos para não machucar. E que vença o melhor.
***
Antes mesmo de pensar em entrar para a Força eu sonhava com avião. Sonhei isso muitas vezes. Hoje em dia meus sonhos têm sempre muita gente. Mais ou menos como minha vida de agora.
Mas raramente eu lembro, por que vivo cansada.
Boa noite.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Do armário

Tudo que tenho a meu dispor nas últimas seis semanas está guardado em um armário que tem entre 50 e 60 centímetros de largura. Uma única porta, com quatro gavetas, um cabideiro e um maleiro. TUDO tem que ser guardado nele: trajes civis, roupa de cama e banho, calçados, três tipos de uniformes - sendo que há mais de um exemplar de cada -, comida, material de higiene pessoal, computador. Enfim, tudo.
Hoje o armário ganhou mais um item. A espada que todo militar oficial possui. É linda, linda. Não corta nem pão de forma, ainda bem, mas é o máximo. (se quiser, dá para afiar. mas o fabricante não recomenda)
O jeito foi tirá-la da caixa, arrumar num canto e guardar a caixa dobrada. É fundamental guardar a caixa, já que nenhuma empresa aérea vai querer transportar uma espada "nua".
Com tão pouco espaço, manter a ordem é fundamental para conseguir achar um par de meias às 5h30, quando ainda falta meia hora para o corneteiro tocar a alvorada e as luzes serem acesas. Por isso, tenho um cabidinho colado com fita dupla face na parte interna da porta, onde fica pendurada minha super lanter de leds. A cola do cabidinho já elvis e, não raro, a lanterna cai aos meus pés, no escuro, quando abro a porta. Legal. Sem falar que quatro portas convergem para o mesmo lado. Ou seja, às 5h30, tem quatro mulheres tentando achar suas coisas no escuro e se trombando.
Querido leitor civil: sabe o que é bombacha sem ser a que gaúcho usa? Sabe o que é bico de pato? E o que é bibico? Tudo coisa de milico.

***
Sempre gostei de organizar coisas e vejo nisso um caráter terapêutico. Arrumar a bagunça externa ajuda a organizar o lado de dentro. Aqui, botar ordem no meu pequeno mundo de meio metro ajuda a sentir que as coisas estão no lugar, mesmo que estejam flutuantes.
***
Quando o corpo não aguenta, a moral é que sustenta. Esse é um dos muitos lemas.
Desde o início tem gente doente aqui. Teve a onda da conjuntivite, da qual fui percursora, a onda das torções e lesões (escapei, graças a Deus). Agora é a vez das febronas. Que não chegue a gripe óinc por aqui.
A moral está boa e o corpo também. Mandei 41 flexões (de mulher) depois da corrida.

domingo, 26 de julho de 2009

Pensamentozinho

Muito tempo longe do lugar chamado de casa, ainda que eu não tenha mais uma casa propriamente dita, dá uma sensação estranha. Por que pensar em voltar para casa não é mais voltar par o lugar de onde eu saí na manhã nublada de 1º de junho. O lugar de onde eu tenho saudade não existe mais. Preciso me conscientizar disso. E não falo da minha ex-casinha física apenas.
Ainda tem muita mudança pela frente. Novo estado, nova cidade, nova casa. A nova profissão está sendo adquirida. Algumas coisas não assustam mais. Gosto bem dessa nova profissão. É full time, 24 horas à disposição. Não tem não sei, não quero, não gosto. Acho que isso tem a ver comigo. E também não tem hora extra. Hm.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Não tem preço

"Oi, pai, sou eu!"
"Ô, que bom falar com você!"

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Véspera de prova



Amanhã tem a primeira prova. Assuntos nunca dantes estudados. A noite vai ser longa. Comidinhas para ficar acordada.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Do estômago

Faz mais de um mês que eu não como maçã. Em compensação, comi mais carne de porco neste período do que em todo o ano de 2009. Se houver algum adventista aqui, certamente vai virar vegetariano.
Adoro maçã. Lembrei da maçã porque, em Londrina, eu comia rotineiramente uma maçã antes de almoço, com o intuito de tapear o estômago. O efeito era sempre o contrário: o apetite se abria ainda mais antes de eu ir na japa do Com Tour ou no Kyoto. Mesmo quando eu levava meu almoço corporativo - versão ilustre da marmita - o hábito da maçã era mantido.
Tenho outros hábitos. Durante a quinzentena, uma barra de cereal era fundamental para manter a glicemia equilibrada antes do café. O café é às 6 horas. Cedo, né? Teve dias em que, na quinzentena, a alvorada foi às 2h45. Haja cereal. Agora, que a minha vida é quase normal, a barra de ceral mudou de horário, mas permanece prevista: como uma todas às tardes, junto com o cafezinho que custa R$ 10 por mês.
Não tem geladeira. Não vou à rua todo dia porque é muita funçao colocar traje civil. O jeito vai ser comprar umas duas maçãzinhas e guardar no meu exíguo armário. Que merece um post a parte.

domingo, 5 de julho de 2009

A vida é trânsito

Não sou mais repórter. E nem moro mais em Londrina. Continuo com 28 anos. A vida é trânsito. Não ser mais repórter, embora continue jornalista (ufa), é algo estranho de se dizer. Não morar em Londrina é mais estranho ainda. Qualquer referência à pequena Londres me faz parar por alguns segundos e evoca uma cadeia de associações no meu cérebro. Que vai direto para o coração.
A vida nova vai muito bem, obrigada. Já penso em como será deixa-la e ir para a nova novíssima vida sem os companheiros de agora. Ao chegar, fomos avisados: você vão fazer amigos com uma rapidez e intensidade que vão se impressionar. Me impressionei como isso, de fato, acontece. O segredo da cola é botar 165 desconhecidos juntos e submete-los a perrengues que ninguém com curso superior jamais pensou passar. É inevitável: você se agarra a quem está perto e descobre as afinidades. Quando a coisa acalma - e demorou 17 dias para voltarmos a ter jornadas de menos de 20 horas diárias - você olha para o lado e pensa que ufa graças a Deus que finalmente acabou. Tenho certeza de que só cheguei até aqui por que foi em grupo.
Tem profissionais de 31 áreas aqui. Sem que eu me desse conta, fiquei amiga das enfermeiras. Muito, muito mais do que dos jornalistas. Na festa junina de ontem, alguém se deu conta: tinha nove enfermeiras e eu na roda. Já fui até nomeada "atendente de pronto-socorro". Quanta honra! Foi a liga de enfermagem (nome carinhoso) do alojamento Sabará que diagnosticou, antes de eu ir ao médico, que eu estava com conjuntivite. Diagnóstico certeiro. Claro que elas também trataram se manter uma distância segura para não se infectarem. Mas tô bem dos zóio já.
Tem nove semanas pela frente. E muita novidade por vir.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ameaça de nívi

No percurso Ourinhos-Londrina, já na BR-369, li ontem a seguinte frase na carroceria de um caminhão.
"Larga eu pu ce ve"
O autor começa assassinando o idioma.
Deveras medonho.

domingo, 29 de março de 2009

24 meses

Me dei conta hoje que, em março, este blog faz dois anos de existência. Foi criado por incentivo da Jana e no computador dela. Eu pensava já a algum tempo em ter um blog mas não sabia ao certo sobre o que seria. Passados dois anos, vejo que o blog não tem uma vocação específica. Serve para eu falar coisas amenas, pensamentos à toa, dúvidas inusitadas, causos de família.
Divagações despretensiosas são bem-vindas.
O que eu gosto nesse blog é a possibilidade se ser totalmente despretensiosa e falar de coisas para as quais nem sempre há interlocutor.

sábado, 28 de março de 2009

Banho de mar

O tempo todo minha mãe faz livre associações. Por isso, às vezes, demora alguns segundos até que eu saiba do que ela está falando. Ela simplesmente começa a falar sobre algum assunto - que até então estava fora da conversa – como se o interlocutor fosse entender a relação. Na maioria das vezes, eu entendo, mas, não sei por que razão, gostaria que ela introduzisse os novos assuntos como, de fato, novos.
Essas livre associações resultam em algumas boas histórias. Hoje, no mercado, comprando ingredientes para bruschetas, peguei uma lata do azeite português Figueira da Foz. E aí, senta – ou melhor, empurra o carrinho – que lá vem a história de dona Irene.
No final do século XIX a minha bisavó, Clara Maria, era adolescente e morava na Cidade da Guarda, em Portugal. A história dela em terras lusitanas foi curta por que, aos 17 anos, grávida de um funcionário da casa - o meu bisavô -, ela fugiu de “vapoiri” para o Brasil. Passou mal a viagem inteira, mas chegou viva, pariu a primogênita Ana e mais quatro rebentos. De profissão, foi parteira e costureira.
Seus contatos anteriores com o mar que a trouxe para uma nova vida - e a fez botar os bofes para fora na amurada do navio - haviam sido rigorosamente controlados. Nas férias da juventude, ela, os pais e os irmãos viajavam para Figueira da Foz, cidade litorânea. As roupas de banho iam até o meio das canelas e de maneira alguma favoreciam o bronzeado uniforme.
O banho de mar era estranhíssimo. Um funcionário chamado de banhista, que prestava serviço ou para a prefeitura ou para o Rei Netuno, era o encarregado de levar os banhistas de facto até o mar. Cada pessoa era levada individualmente e tinha direito a cinco ondas. Por ida ao mar? Não, por dia.
Ou seja, numa temporada de dez dias, o máximo de tempo que uma pessoa permaneceria no mar seria o prazo de 50 ondas. Nada de pular sete ondas na virada do ano. Eram só cinco, e apenas no horário em que o banhista estava a postos.
Não há fotos dessa época. As fotos de praia que tenho da bisa são dela, o marido e os filhos em Santos, lá por 1930. Os trajes ainda eram muito pitorescos. Na década de 70, um tio meu foi a um baile de carnaval com o maiô (isso mesmo, não era sunga) do meu bisavô. Definiria como um body de comprimento até o meio das coxas, sem mangas, de lã (!), azu-marinho. Se alguém aparecesse num baile com essa roupa atualmente iria precisar de legenda para a fantasia. Anos atrás, tive a oportunidade de ver este maiô. Nem de longe dá para imaginar que serviu para entrar no mar.

domingo, 15 de março de 2009

Obrigada pelas flores

Pisar em flores é coisa para crianças vestidas de anjinho em dia de procissão da salve padroeira, e só depois que o andor já passou. É para noiva que tem noivo romântico. É para o Eddie Murphy no vespertino "Um príncipe em Nova York".
Faz dois dias que pisei na grama recém cortada da casa da mãe e vi pontinhos amarelos. Dias depois da roçagem, com chuva abudante, apareceram pequenas flores amarelas equilibradas sobre os colmos. Vi uma, achei que era algum matinho que tinha florido. Sim, por que esses matos à toa sabem dar flores bonitas. Um dia, folheando um livro do pai agrônomo da amiga Audrey, chamado "Plantas Daninhas" ou algo do tipo, encontramos um monte de flor que de danosa, para gente, não tinha nada.
Então, vi seguidamente pequenas flores amarelas, concentradas em frente à janela do quarto da mãe. Tão gentil, a grama; deixa a gente lhe pisar sem reclamar. É amassada seguidamente, esse é seu trabalho, e não oferece espinhos. Se chove muito e ela cresce mais que o esperado, as pessoas reclamam. Mas se estia e a grama seca, reclamam que está feia. Acho que o segredo da grama é seguir fielmente sua natureza gramínea sem ligar para os outros.



Escrevi anteriormente que a flor é o sorriso da planta.
Não pise nas flores da grama.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Biografia

Adoro biografias. Terminei de ler Nara Leão - Uma Biografia, de Sérgio Cabral (pai do governador do Rio). Tudo o que eu sabia sobre ela até então, em ordem de aquisição de conhecimento, é que: é uma cantora de MPB, é famosa pelos belos joelhos, é considerada a musa e uma das criadora da bossa nova, é irmã da Danuza Leão.
Li esse livro ávida por encontrar detalhes saborosos como os do livro de memórias da Danuza, Quase Tudo - presente de uma pessoa querida. Na verdade, se eu não tivesse lido o livro da Danuza, não me interessaria por esse. Mas já esperava que não seria bem assim, já que o autor é biógrafo de um monte de gente da MPB e se detém na trajetória musical do biografado. E o que me interessa é bem menos nobre: observar a vida alheia de um lugar de voyeur.
Aprendi bastante coisa mas, senti falta de a vida e Nara ser esquadrinhada.
Não que o autor se omita, mas senti um certo pudor do Sérgio Cabral, que foi bem amigo dela, na maneira de expor os fatos da vida pessoal de Nara Leão.
Acho que eu não biografaria um amigo: ou o livro fica bom (e você entrega o amigo) ou fica oficial.
Talvez, penso, Quase Tudo leve outra vantagem além de ser de autoria da própria "memoriada". É que as irmãs Leão tinham personalidades totalmente opostas e, no aspecto personalidade, Danuza ofusca a caçula.
***
Preciso comprar um CD da Nara Leão urgente. Uma voz doce que só.
***
Até agora não entendi muito bem qual é o grande lance dos joelhos...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Facilidades ao meio-dia

Fiz um diagnóstico despretensioso a respeito dos comerciais das TVs londrinenses da hora do almoço e verifiquei o seguinte: a maioria trata dos problemas comezinhos do ser humano. Nessa hora não se vende carro e nem eletromésticos. De modo geral, também não é hora de os supermercados mostrarem suas ofertas, já que a família brasileira está com o bucho cheio. É hora de encontrar, entre um brado e outro do Leo José ou do Camargo, soluções para os probleminhas que atormentam nosso conforto e bem-estar físico.

Vejamos:

Varicel: trata varizes e hemorroidas (sem acento);
Corega Tabs: fixa dentaduras e deixa a pessoa livre para gargalhar e comer maçã em público;
Calcitran D3: Nicete Bruno promete e maravilhas no combate a osteoporose;

Outros habitués do horário são o antimicótico Vodol e o iogurte Activia, que abre caminho para o bacilo Dan Regularis dinamitar intestinos preguiçosos, e o creme dental Sensodine, indicado para dentes sensíveis. Também cabem na grade: xampú anti-caspa, creme depilatório, lentes fotocromáticas, antiácido e o que mais puder tornar corpos mais adequados ao meio.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Rotina

Gosto e não gosto de rotina. Hoje ela voltou, e gostei.
Depois de uma breve temporada na pauta, voltei para a reportagem.
Isso significa 1,5 hora a mais de sono todos os dias, ouvir menos rádio, ficar menos atenta às desgraceiras cotidianas e trabalhar menos horas. E deixar de ganhar 30%. Tudo tem seus senões.
Gostei de ocupar a posição de pauteira, mas absorve muito o cérebro da pessoa.
De repente, tem três pessoas querendo falar ao mesmo tempo, mais o telefone que não para, mais o rádio, mais a caixa de e-mails que só aumenta o volume de não lidos e mais e mais e mais... Mas foi bom, bem bom, aprender a fazer outra coisa na redação.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Encantada

Ontem eu conheci uma princesinha de menos de meio metro que ganhou meu coração.
Nunca tinha ficado tão encantada com um bebê.
Ela é linda, ela é atenta, ela é cheirosa e chora em "furremol".
O máximo!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Primeiro do ano

Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Mas dou aqui uma sugestão, de graça, que ajuda a superar a melancolia dezembrina. Ok, já estamos em janeiro. Talvez, a simples passagem de ano seja suficiente para aplacar o vazio interior e enche-lo de esperança. Talvez não.
O fato é que fiz uma mega baita arrumação em casa que teve efeitos terapêuticos. Levei para a lixeira do prédio dois carrinhos de compras cheios de papéis, objetos inservíveis e outras velharias inúteis. No meu caso, para fazer efeito, estabeleci duas condições: 1) fazer a faxina antes do final do ano; 2) olhar tudo o que estava sendo jogado fora e apreciar os cacarecos, ainda que rapidamente.
Mas não foi nada rápido. No dia 30/12 joguei fora materiais dos quatro anos de faculdade. Estavam separados por série, em arquivos de papelão. Além de centenas de páginas de xérox, que doravante servirão de rascunho no jornal, achei papéis para fotografia, negativos, fotos P&B reveladas por mim, agendas com mais de cinco anos, bilhetes, fitas K7 e VHS, provas da faculdade e toda sorte de bugigangas universitárias. No dia seguinte arrumei uma caixa de recuerdos com fotos, cartões, mais bilhetes e papéis menos sentimentais como manuais de DVD, máquina de lavar, mp3 player e os respectivos certificados de garantia.
Por fim, uma parte mais burocrática e menos saudosa: arrumar a pasta de recibos de contas e outros papéis bem importantes na vida economicamente ativa.
Em seguida, coloquei ordem em livros e CDs, com a sensação de que preciso dar uma nova ordem em breve na estante, já que tem coisinhas que não sei onde pôr. No fim de tudo, uma faxina completa no apê.
Não sou o auge da pessoa organizada, como talvez eu dê a entender. Mas, de tempos em tempos, gosto de fazer essas limpas terapêuticas, acredito que é importante para a gente ver o que leva adiante, o que joga fora e relembrar o que passou.
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Londrina consolida, nos últimos 12 anos, uma tradição de prefeitos com cútis malacabada. Nessa madrugada, a eleição de José Roque Neto (PTB) para a presidência da Câmara de Vereadores (e, consequentemente, para assumir interinamente a Prefeitura de Londrina) comprovou essa vocação.