domingo, 31 de janeiro de 2010

O ramerrão

A tarefa naquela manhã dos anos 90, que pode ter sido de alguma série do ginásio, hoje Ensino Fundamental, era interpretar algumas frases. A professora de redação havia escrito várias na lousa, e acho que era um jeito de matar aula. Bem, as aulas dessa professora eram intermináveis janelas no nosso horário...
Parecia não haver critério nem rigor estilístico. O repertório variou de uma sentença que tinha "a mosca da minha sopa" no meio até frases de escritores da literatura nacional. Uma em especial em marcou.

"A vida é um ramerrão solitário."

Que eu me lembre, era atribuída a algum autor.
Hoje, mais de uma década depois, procurei no Google e não achei o dono. Não acharia estranho se a frase não estivesse reproduzida fidedignamente, aliás, seria a cara dessa professora se fosse quase a frase original.
Para mim, ramerrão solitário dá uma ideia de uma multidão solitária, um bando de gente indo para o mesmo lugar, porém, isoladamente. Uma espécie de Círio de Nazaré pagão - todos vão juntos, mas cada um olhando para sua própria dor. Digo isso com base na cara da palavra. Acredito que as palavras têm personalidade própria, inclusive, há aquelas que só saem casa de cartola e casaca, de tão requintadas que são. Por outro lado, há aquelas descartáveis feito um lanche do McDonalds.
É o caso da palavra diferenciado. Pobre coitado, um dos verbetes mais promíscuos do vernáculo.

Não tenho um dicionário aqui (que falta faz minha casa!) e, uma googlada mixuruca afirma que ramerrão que dizer tarefa rotineira e enfadonha. Se for isso mesmo, minha interpretação perde o sentido.

Mas permanece a figura do Círio pagão.

***

Foi graças a essa professora que me tornei jornalista.
Ela era tosca, mas dava umas dentro.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Os insetos&eu

Eu tenho muitas histórias com insetos. Um dia, quando era estudante de jornalismo na UEL, uma abelha se enroscou nos meus cabelos, em plena aula. Sacudi com a mão para ver se a abelha se mandava, levei uma picada e ganhei o indicador inchado por uns três dias. Tempos depois, enquanto fazia fotos com a câmera da faculdade, outra abelha se prendeu em mim. Ahá, pensei, não vou sacudir. A bicha saracoteou até cansar e acabou por picar meu couro cabeludo. Foi pior que o dedo inchado: fiquei com os gânglios atrás da orelha inchados e não conseguia nem colocar óculos, de tão dolorido.
Lá pelo terceiro ano da faculdade, um bichinho minúsculo e desconhecido me picou no pé. Dessa vez o corpo todo reagiu, de uma vez só, e fui parar no Hospital Universitário.
Desde então fui atacada por outros insetos e tive alguns pequenos inchaços. Nem estranho quando isso acontece.
Mas, ontem, a criatura abaixo investiu contra mim.


Medonho, alado, listrado e com a bunda a pulsar, cheia de veneno.
Foi na perna, e senti dor do dedinho ao quadril. Achei que ia ter outro troço desses de ir para o hospital mas, passado o pavor e a dor iniciais, vi que não era grave. Por questão de honra e segurança dos habitantes da casa, prendi o pesadelo com listras dentro de um copo de Nutella.
Ele está lá até agora, encostado em um canto do corredor. Dei boa noite e bom dia. Tudo o que ele faz é escalar as curtas paredes de vidro e escorregar em seguida.
Tenho um prisioneiro de guerra, e não sei que destino dar a ele.
Gostaria de saber que bicho é. Parece um marimbombo tamanho GG. Será que é vespa?
Ao vê-lo preso no copinho, fico com pena. Deve estar ruim lá. Sem ressentimentos pelo ataque.