domingo, 23 de maio de 2010

Andanças pela Glória

Agenda do Fluminense do ano de 1997.

Tostex enferrujado.

Video-game Gemini (com joystick original).

Retratos de pessoas anônimas.

Edições do Círculo do Livro.

Liquidificador com copo de vidro.

Sapatos, tênis e sandálias com muitos quilômetros rodados.

Aplique de cabelo descabelado.

Cooler de CPU.


Tudo isso, lado a lado, sobre um pano sujo estendido na calçada.

Toda a sorte de quinquilharias, usadas e mal conservadas, está à venda nos ambulantes das ruas da Glória e do Catete. Os ambulantes, tão mal ajambrados quanto suas mercadorias, são moradores de rua ou gente que aparenta ser muito, muito pobre.

É uma visão ao mesmo tempo melancólica e curiosa.

Sabe aquela tornozeleira de búzios que você comprou em Porto Seguro em algum verão dos anos 90 e nunca mais usou? É esse tipo de coisa que os ambulantes da Glória e do Catete vendem.

Nunca parei para perguntar o preço de nada, mas já pensei que alguns cacos velhos que surgiram com a minha mudança bem que serviriam para o mercado...

***

A Glória é um bairro muito antigo e que já teve seus dias de gramur&grítter. A família imperial, no período joanino, frequentava a Igreja da Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Inclusive, foi lá de Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Michaela Gonzaga, filha de D. Pedro I e neta de D. Joao VI, foi batizada, em 1819.

(suponho que o padre imperial deve ter recobrado o fôlego pelo menos um par de vezes entre o "Maria" e o "Gonzaga")

Oficialmente, a Glória é o primeiro bairro da zona sul do Rio, mas eu acho que tem uma baita cara de Lapa e Centro também. Digo isso porque vejo umas construções antiquíssimas, dessas que você para em frente e fica tentando descobrir o que é, ou melhor, o que foi. Dessas que tem umas carrancas de granito que põe medo na gente.

Uma das fachadas que mais me chamou a atenção é a da foto.


É a sede da Igreja Positivista do Brasil, que foi fundada no século XIX, e sobre a qual eu nunca tinha ouvido falar na minha vida. Esse lance de ser governado pelos mortos, pelo que entendi, é o seguinte: os positivistas cultuam a memória dos mortos por meio do legado que deixaram para a posteridade. É a imortalidade subjetiva da alma. Na nave central, há bustos de 13 personalidades da religião, literatura, filosofia, ciência e política, gente tipo Shakespeare, São Paulo e Aristóteles.

2 comentários:

Unknown disse...

Cada pedacinho do nosso Rio tem muita riqueza de imagens, pessoas e histórias... mas é engraçado mesmo quando caminhos se cruzam! Bjos!

Glória G. disse...

=)