domingo, 17 de abril de 2011

Linha de produção

Existe uma tendência a automatizar praticamente todos os tipos de serviço, inclusive aqueles que, a meu ver, não são automatizáveis.
Meu irmão diz que, se você for ao Subway e pedir os ingredientes fora de ordem (a salada antes do queijo, por exemplo) vai dar um tilt na linha de produção e a atendente surta.
Eu já vi isso acontecer. Um dia, uma senhora subverteu a ordem fordista: entrou pela saída e pediu um "sanduíche de salaminho". A opção é inxexistente, muito embora o salaminho repouse do lado de dentro da vitrine.
"BMT, senhora?" A frase soou totalmente sem pé nem cabeça para a senhorinha, que olhou a atendente e disse, pausadamente, sa-la-mi-nho. Nada feito. A atendente grunhiu uma série de nomes de sanduíches, com aquele muxoxo típico de quem não gosta do que faz.
A pendenga só foi solucionada com a presença do gerente, que fez o óbvio e explicou quais sanduíches levavam salame. Embora óbvio, parece que essa atitude não consta das normas da casa, nem em caso de emergência.
Outro dia resolvi dar uma segunda chance a uma clínica de depilação que já havia sido reprovada uma vez. Voltei motivada pelo resultado, que é bom. O trato com o cliente, porém, é bizarro. Pelo Menos é o semi-trocadilho que batiza o local.
As funcionárias seguem com absoluto rigor o catecismo da franquia. Recepcionam as clientes com frases decoradas a respeito dos procedimentos adotados. Experimentei dizer que não tinha entendido e pedi para repetir. E a moça reproduziu até mesmo as pausas da respiração. É como um atendimento de telemarketing, com o agravante de ser cara a cara. Mais mecânico, impossível.
E isso não é tudo.
Não pode falar no celular enquanto depila.
Não pode tirar a sombrancelha com pinça. ("só com cera, senhora")
Não pode, resumindo, pedir a depilação do seu jeito. Nem adianta explicar como quer. A moça jamais vai contra o catecismo depilatório, independente do que a cliente argumente.
É como falar com paredes.

Isso me fez lembrar de um filminho que o Marcelo Adnet mostrou ontem em seu programa. Um cara, de carro, para num lugar qualquer e fala: "Como eu chego no bairro tal? É que eu vou lá torturar uma idosa". As pessoas abordadas dão a informação numa boa e simplesmente não escutam a parte absurda da frase.
Me lembra também uma cena de O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain, na qual ela vai visitar o pai e, ao percebê-lo totalmente aéreo e alheio à conversa, diz algo tipo "e então eu comecei a usar drogas e engravidei", ao que o pai responde com uhum, uhum.

É difícil ouvir tudo o que nos dizem.

2 comentários:

Unknown disse...

Que bom que voltou a postar Glorinha...bom escutar é uma das tarefas difíceis da vida (apesar de termos dois ouvidos) é muito mais fácil falar, e muitas vezes não falamos, mas também não escutamos, pois além da memoria seletiva temos, para o nosso bel prazer e egoísmo, a audição seletiva.
Beijos Lara

Glória G. disse...

vixe, nem fala, me esforço para ouvir (e olha que escuto muito bem!)
bjão Larinha!