sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Zé Carioca Ltda.

A busca por dois pés de sofá na última semana me colocou frente a frente com a índole do carioca, no pior sentido que isso possa ter. Procurei em mais de dez lugares, entre madeireiras, lojas de decoração, casa de ferragens e fábricas de móveis.
Parece que fui a primeira pessoa no Rio a procurar pés para sofá. Até na internet a busca se mostrou infrutífera.
Escutei de tudo entre os comerciantes, na maioria das vezes, indicações tipo "aqui não tem, mas na loja ou na rua tal você encontra". Quando não encontrava o telefone, o jeito era ir pessoalmente e descobrir que a loja tinha de tudo, menos os pés.
Nessa peregrinação, conheci o Ribamar, que trabalha numa fabriqueta no Catete.
O cidadão ficou de vir em casa para ver o sofá na quinta. Ficamos esperando, mas não apareceu.
Tinha o telefone, mas não ligou.
Na sexta, achei uma loja na rua Buenos Aires, a qual já tinha ido, e ouvi as palavras mágicas. "Sim, temos pés de sofá". Soou feito música. E mais: o vendedor, o cearense Itaéce, fazia a colocação (que demandaria furar e serrar), "por fora".
***
Estamos em casa, aguardando o sujeito, quando toca o interfone.
"Sim, pode subir". É o homem do sofá. Bendito seja!
O homem foi recepcionado e já estava com a mão na massa quando eu entrei na sala e, susto! Não era o Itaéce, era o Ribamar, que estava umas 24 horas atrasado. E ainda trouxe a correspondência, a pedido do porteiro!
O homem foi devidamente situado do que estava acontecendo e, ao sair, no corredor, cruzou com o Itaéce - e ainda deu a dica do serviço que precisava ser feito.
Os pés foram instalados e o sofá voltou a ativa. O cearense cobrou bem cobrado, mas paguei sem reclamar.
***
Tenho minhas dúvidas se o Ribamar é carioca. Está mais para conterrâneo do Itaéce. Mas sua atitude foi do mais puro carioquismo - minhas dificuldades com prestadores de serviço no Rio já foram aqui narradas.
A minha reclamação não é com os cariocas em específico, mas com um tipo de comportamento que, aqui no Rio, parece regra. Uma insolência, um deixa para depois sem fim.
Se o problema for mesmo da cidade, tenho que me precaver e cultivar ao máximo minhas raizes paulistas e minhas aptidões paranaenses.
***
Tenho muito apreço pelo sofá, que já aguentou uma, duas e muitas pessoas.
A sala estava pouco convidativa com o sofá inutilizado.
O quanto essa procura me desgastou reforça o quanto minha casa é importante para mim. "Minha casa, minha casinha, merda para o rei e para a rainha", diria a bisavó portuguesa.
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Para quem procura pés para sofá, vai a dica:
TAL HOUSE - Ferragens e Acabamentos
Rua da Conceição, 34
Centro
Rio de Janeiro-RJ

5 comentários:

Ila Fox disse...

Cara, se EU atrasasse UM DIA na entrega de alguma ilustração eu morreria falida. Sério, estes caras devem estar tudo com a vida ganha, não é possível...

Glória G. disse...

Sabe que isso me intriga... como eles ainda têm trabalho?

simoni disse...

Se tivesse colocado tijolos... Belo texto, Glorinha! Chato acontecer essas coisas, mas o lado bom é que quando acontecem com vc sempre rendem boas histórias. Beijos...

Glória G. disse...

Simon, sua linda!!
Que honra sua ilustre visita nesse empoeirado blog!!
beijão!

Dimitrius N. Motta disse...

Na verdade, o comodismo é fruto de uma certa "impunidade" que vi - e vejo - acontecer em várias cidades onde morei (Belém, Porto Alegre, Salvador e, agora, Rio) e em todas as áreas. Adorei o texto e a dica da loja.