segunda-feira, 14 de maio de 2007

Recortes

Hoje o mundo me atraiu sobremaneira.
Porque logo cedo teve o café quente e cheiroso adoçado ainda na água fervente - e por isso tão bom. E teve pão com Bom Dia Brasil.
E teve a visita à carceragem vazia e eu vi a vida dos presos no cheiro rançoso da cadeia, e aprendi o que é uma jega e o que é uma aranha. Não, não se trata da mulher do jegue e nem de um aracnídeo. E conheci parte do ciclo da violência. E concluí: certamente é melhor ter a bolsa levada em segundos do que viver no corró. O susto passa, mas a vida do preso, esta também passa; e ele fica. É sempre melhor estar do lado de cá.
E teve a minha plantinha laboral, que eu rego todo dia, bebendo aguinha feliz depois de sábado e domingo de sede.
E teve o que todo dia tem, mas teve também meus ouvidos, olhos e nariz mais vivos. E na hora em que o avião passou não pude não virar o pescoço e acompanhar com olhos, cabeça e atenção. Não pude não rir do estudante gorducho com a camiseta da propaganda do mercado que perguntou "de quem é esta laranja?" em pleno ônibus; o gorducho que achou a dona, que cedeu a fruta para o vizinho de banco, que a provou lá mesmo. Pelo jeito, aprovou.
E teve as cinco dezenas de minutos no divã. Pensamos juntas; eu concluo.
E teve todos aqueles estudantes universitários que eu já fui e a conversas que não mudam. E os risos altos das meninas que se aparecem. E o estudante de física que sobe a escada da biblioteca com livros e gravidade.
E teve a conhecida encontrada no mercado onde se encontra o doce-de-leite supremo.
E, hoje, tem também amanhã.

Um comentário:

Anônimo disse...

essa história de café quente e cheiroso me lembra um poema do Drummond que eu adoro, "Infância".
Talvez porque ele diga
"Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom." , e porque eu gostava de repetir isso nos moldes do comercial do chope engarrafado Belco.
(ainda bem que não havia ainda a escola de circo de Londrina, né?)