domingo, 29 de março de 2009

24 meses

Me dei conta hoje que, em março, este blog faz dois anos de existência. Foi criado por incentivo da Jana e no computador dela. Eu pensava já a algum tempo em ter um blog mas não sabia ao certo sobre o que seria. Passados dois anos, vejo que o blog não tem uma vocação específica. Serve para eu falar coisas amenas, pensamentos à toa, dúvidas inusitadas, causos de família.
Divagações despretensiosas são bem-vindas.
O que eu gosto nesse blog é a possibilidade se ser totalmente despretensiosa e falar de coisas para as quais nem sempre há interlocutor.

sábado, 28 de março de 2009

Banho de mar

O tempo todo minha mãe faz livre associações. Por isso, às vezes, demora alguns segundos até que eu saiba do que ela está falando. Ela simplesmente começa a falar sobre algum assunto - que até então estava fora da conversa – como se o interlocutor fosse entender a relação. Na maioria das vezes, eu entendo, mas, não sei por que razão, gostaria que ela introduzisse os novos assuntos como, de fato, novos.
Essas livre associações resultam em algumas boas histórias. Hoje, no mercado, comprando ingredientes para bruschetas, peguei uma lata do azeite português Figueira da Foz. E aí, senta – ou melhor, empurra o carrinho – que lá vem a história de dona Irene.
No final do século XIX a minha bisavó, Clara Maria, era adolescente e morava na Cidade da Guarda, em Portugal. A história dela em terras lusitanas foi curta por que, aos 17 anos, grávida de um funcionário da casa - o meu bisavô -, ela fugiu de “vapoiri” para o Brasil. Passou mal a viagem inteira, mas chegou viva, pariu a primogênita Ana e mais quatro rebentos. De profissão, foi parteira e costureira.
Seus contatos anteriores com o mar que a trouxe para uma nova vida - e a fez botar os bofes para fora na amurada do navio - haviam sido rigorosamente controlados. Nas férias da juventude, ela, os pais e os irmãos viajavam para Figueira da Foz, cidade litorânea. As roupas de banho iam até o meio das canelas e de maneira alguma favoreciam o bronzeado uniforme.
O banho de mar era estranhíssimo. Um funcionário chamado de banhista, que prestava serviço ou para a prefeitura ou para o Rei Netuno, era o encarregado de levar os banhistas de facto até o mar. Cada pessoa era levada individualmente e tinha direito a cinco ondas. Por ida ao mar? Não, por dia.
Ou seja, numa temporada de dez dias, o máximo de tempo que uma pessoa permaneceria no mar seria o prazo de 50 ondas. Nada de pular sete ondas na virada do ano. Eram só cinco, e apenas no horário em que o banhista estava a postos.
Não há fotos dessa época. As fotos de praia que tenho da bisa são dela, o marido e os filhos em Santos, lá por 1930. Os trajes ainda eram muito pitorescos. Na década de 70, um tio meu foi a um baile de carnaval com o maiô (isso mesmo, não era sunga) do meu bisavô. Definiria como um body de comprimento até o meio das coxas, sem mangas, de lã (!), azu-marinho. Se alguém aparecesse num baile com essa roupa atualmente iria precisar de legenda para a fantasia. Anos atrás, tive a oportunidade de ver este maiô. Nem de longe dá para imaginar que serviu para entrar no mar.

domingo, 15 de março de 2009

Obrigada pelas flores

Pisar em flores é coisa para crianças vestidas de anjinho em dia de procissão da salve padroeira, e só depois que o andor já passou. É para noiva que tem noivo romântico. É para o Eddie Murphy no vespertino "Um príncipe em Nova York".
Faz dois dias que pisei na grama recém cortada da casa da mãe e vi pontinhos amarelos. Dias depois da roçagem, com chuva abudante, apareceram pequenas flores amarelas equilibradas sobre os colmos. Vi uma, achei que era algum matinho que tinha florido. Sim, por que esses matos à toa sabem dar flores bonitas. Um dia, folheando um livro do pai agrônomo da amiga Audrey, chamado "Plantas Daninhas" ou algo do tipo, encontramos um monte de flor que de danosa, para gente, não tinha nada.
Então, vi seguidamente pequenas flores amarelas, concentradas em frente à janela do quarto da mãe. Tão gentil, a grama; deixa a gente lhe pisar sem reclamar. É amassada seguidamente, esse é seu trabalho, e não oferece espinhos. Se chove muito e ela cresce mais que o esperado, as pessoas reclamam. Mas se estia e a grama seca, reclamam que está feia. Acho que o segredo da grama é seguir fielmente sua natureza gramínea sem ligar para os outros.



Escrevi anteriormente que a flor é o sorriso da planta.
Não pise nas flores da grama.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Biografia

Adoro biografias. Terminei de ler Nara Leão - Uma Biografia, de Sérgio Cabral (pai do governador do Rio). Tudo o que eu sabia sobre ela até então, em ordem de aquisição de conhecimento, é que: é uma cantora de MPB, é famosa pelos belos joelhos, é considerada a musa e uma das criadora da bossa nova, é irmã da Danuza Leão.
Li esse livro ávida por encontrar detalhes saborosos como os do livro de memórias da Danuza, Quase Tudo - presente de uma pessoa querida. Na verdade, se eu não tivesse lido o livro da Danuza, não me interessaria por esse. Mas já esperava que não seria bem assim, já que o autor é biógrafo de um monte de gente da MPB e se detém na trajetória musical do biografado. E o que me interessa é bem menos nobre: observar a vida alheia de um lugar de voyeur.
Aprendi bastante coisa mas, senti falta de a vida e Nara ser esquadrinhada.
Não que o autor se omita, mas senti um certo pudor do Sérgio Cabral, que foi bem amigo dela, na maneira de expor os fatos da vida pessoal de Nara Leão.
Acho que eu não biografaria um amigo: ou o livro fica bom (e você entrega o amigo) ou fica oficial.
Talvez, penso, Quase Tudo leve outra vantagem além de ser de autoria da própria "memoriada". É que as irmãs Leão tinham personalidades totalmente opostas e, no aspecto personalidade, Danuza ofusca a caçula.
***
Preciso comprar um CD da Nara Leão urgente. Uma voz doce que só.
***
Até agora não entendi muito bem qual é o grande lance dos joelhos...