domingo, 15 de março de 2009

Obrigada pelas flores

Pisar em flores é coisa para crianças vestidas de anjinho em dia de procissão da salve padroeira, e só depois que o andor já passou. É para noiva que tem noivo romântico. É para o Eddie Murphy no vespertino "Um príncipe em Nova York".
Faz dois dias que pisei na grama recém cortada da casa da mãe e vi pontinhos amarelos. Dias depois da roçagem, com chuva abudante, apareceram pequenas flores amarelas equilibradas sobre os colmos. Vi uma, achei que era algum matinho que tinha florido. Sim, por que esses matos à toa sabem dar flores bonitas. Um dia, folheando um livro do pai agrônomo da amiga Audrey, chamado "Plantas Daninhas" ou algo do tipo, encontramos um monte de flor que de danosa, para gente, não tinha nada.
Então, vi seguidamente pequenas flores amarelas, concentradas em frente à janela do quarto da mãe. Tão gentil, a grama; deixa a gente lhe pisar sem reclamar. É amassada seguidamente, esse é seu trabalho, e não oferece espinhos. Se chove muito e ela cresce mais que o esperado, as pessoas reclamam. Mas se estia e a grama seca, reclamam que está feia. Acho que o segredo da grama é seguir fielmente sua natureza gramínea sem ligar para os outros.



Escrevi anteriormente que a flor é o sorriso da planta.
Não pise nas flores da grama.

4 comentários:

Ila Fox disse...

Glória, não sabia que vc tinha blog, adorei! li desde o comecinho, não dá vontade de parar.

Vc consegue falar sobre fatos atuais e recordações de uma forma deliciosa. Parabéns!

Eu tenho uma vontade secreta de fazer um blog, mas eu já tenho um diário, na qual vivo colocando minhas divagações cotidianas.
Porém, eu percebi que quando estou feliz escrevo menos do que quando estou triste ou frustrada. Conclusão: meu diário se torna um grande livrinho de reclamações da Ila! hehe.

Beijocas

Anônimo disse...

o livro do meu pai era um jardim, na verdade. mas só ele enxerga. a gente conseguiu espiar também.
gosto de vc.

marcos cesar gouvea disse...

Não sei (ou sei) porque me lembrei do poema do Drummond A Flor e a Náusea, cujo três últimos versos são:


(...)

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

espanador de pó disse...

muito perspicaz a filosofia da grama em seguir sua natureza sem ligar para os outros! principalmente para os que nela pisam e, também, as que a chamam de feia!